Para quem sofre de transtornos alimentares como a
bulimia, a anorexia e o comer compulsivo, períodos como a Páscoa são sinônimo de
sofrimento
E os números são alarmantes: de acordo com
estimativas do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH), 70
milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de algum tipo de transtorno desse
tipo.
Apesar de as mulheres representarem a grande
maioria, o problema não é exclusivamente feminino: cerca de 10% dos casos de
bulimia ou anorexia ocorrem em homens.
Longe de ser um comportamento "normal" ou
inofensivo, o exagero ao comer, ou, pelo contrário, ao restringir a alimentação,
pode causar uma série de consequências para a saúde, muitas delas graves. Muitos
casos de anorexia resultam em morte.
"O índice de mortes provocado por esses
transtornos é de 18% a 20%. De acordo com o Centro Nacional de Informações sobre
Transtornos Alimentares do Canadá (Nedic), a incidência mundial de mortes
relacionadas à anorexia em mulheres entre 15 e 24 anos é 12 vezes maior que
qualquer outra causa nessa faixa etária", alerta a endocrinologista Claudia
Chang, coordenadora e professora da Pós-Graduação em Endocrinologia do Instituto
Superior de Medicina (ISMD) de Belo Horizonte (MG).
Quando se come menos
São várias as doenças definidas como "transtorno
alimentar", mas as mais conhecidas são a anorexia, a bulimia e o comer
compulsivo (também chamado de compulsão alimentar).
A anorexia nervosa é caracterizada por um grande
medo de engordar, o que leva a pessoa a dietas muito restritas e à extrema perda
de peso. Há um distúrbio da imagem que a própria pessoa tem de si mesma: ela se
vê acima do peso, embora esteja extremamente magra. Existem relatos de casos de
meninas que chegam a pesar apenas 20 quilos. Para não engordar, a pessoa mal se
alimenta, exagera na atividade física, vomita, toma laxantes e diuréticos.
A anorexia se manifesta principalmente em
mulheres jovens, embora sua incidência esteja aumentando também em homens. As
complicações do problema são várias: desnutrição, desidratação, hipotensão
(diminuição da pressão arterial), anemia, intolerância ao frio, motilidade
gástrica diminuída, amenorreia (parada do ciclo menstrual), osteoporose,
infertilidade e maior propensão a infecções por comprometimento do sistema
imunológico. Além disso, às vezes, pessoas com anorexia chegam rapidamente à
caquexia, um grau extremo da desnutrição, e nesses casos o índice de mortalidade
pode chegar a 15%.
"Os quadros de anorexia nervosa são muito graves.
A realimentação nos casos extremos deve ser feita com cautela em ambiente
hospitalar e equipe treinada", aponta o psiquiatra Nelson Caldas, do Hospital
Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ).
Já na bulimia a pessoa tem grande preocupação com
a forma física, ao mesmo tempo que não consegue controlar uma compulsão
alimentar. Enquanto uma ingestão normal por dia é algo em torno de 2.500
calorias, pacientes com bulimia podem ter "ataques" e chegar a consumir até
5.000. A culpa e o medo de engordar vêm logo em seguida. Então, essas pessoas
usam mecanismos compensatórios, como indução ao vômito, uso de laxantes e
diuréticos, jejum prolongado e prática exaustiva de atividade física.
"Vivemos numa sociedade em que temos, ao mesmo
tempo, uma excessiva oferta de alimentos e uma pressão social para um corpo
magro e 'sarado'. Não queremos pagar o preço nem de uma coisa nem de outra",
explica Caldas.
A bulimia também causa graves prejuízos à saúde,
como inflamação na garganta (inflamação do tecido que reveste o esôfago pelos
efeitos do vômito), rosto inchado, cáries e lesões sobre o esmalte dos dentes,
desidratação, desequilíbrio eletrolítico, problemas gastrintestinais, arritmias
cardíacas, dores musculares e câimbras.
Quando se come demais
Enquanto algumas pessoas comem de menos com medo
de engordar, outras não conseguem controlar o apetite. O transtorno do comer
compulsivo é caracterizado por episódios de ingestão exagerada e compulsiva de
alimentos, que ocorrem com frequência. Porém, diferentemente da bulimia nervosa,
essas pessoas não tentam evitar ganho de peso com os métodos compensatórios.
Nos casos do comer compulsivo, a comida é usada
para lidar com problemas psicológicos. Este transtorno afeta mais as mulheres
entre 20 e 30 anos de idade, e também traz complicações para a saúde como
obesidade, diabetes, infarto, pressão alta, aumento do colesterol, complicações
cardíacas, problemas osteomusculares e articulares.
"É preciso atentar que os transtornos alimentares
são doenças psiquiátricas que levam a grandes prejuízos biológicos e
psicossociais, e que têm uma grande taxa de mortalidade", alerta a nutricionista
Érika Cheon B. Romano, colaboradora do Genta - grupo especializado em nutrição e
transtornos alimentares de São Paulo.
Causas e tratamento
Não há uma única causa para os transtornos
alimentares, mas, sim, uma série de fatores que levam ao problema. Na esteira,
entram fatores genéticos, biológicos, socioculturais, familiares e
psicológicos.
E porque as causas são multifatoriais, o
tratamento deve ser multidisciplinar. "A equipe que cuida de pacientes com
transtornos alimentares envolve psiquiatras, nutricionistas e psicólogos
especializados, podendo contar também com educadores físicos e terapeutas
ocupacionais", explica Romano. Muitas vezes pode haver a internação do paciente
para facilitar sua recuperação.
A recuperação de pacientes com transtornos
alimentares não é fácil e, para seu sucesso, o envolvimento da família é
essencial. No caso de adolescentes, por exemplo, os pais devem servir de modelo
para uma alimentação correta, devem compreender e apoiar emocionalmente os
filhos quando ocorre alguma obsessão pela forma física ou compulsão por comida,
assim como devem observar todos os excessos.
"Os pais devem estar atentos a todos os excessos,
tanto da magreza quanto da obesidade, e também ter mais cuidado nas compras de
supermercado e nos lanches e refeições fora de casa. E devem buscar ajuda ao
primeiro sinal de alerta. Quanto mais cedo for identificado o transtorno, maior
chance de recuperação e menos danos à saúde", alerta Caldas.
Fonte: UOL
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