segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Destruição

Os amantes se amam cruelmente
 e com se amarem tanto não se veem.
 Um se beija no outro, refletido.
 Dois amantes que são? Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.
Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
 E eles quedam mordidos para sempre.
 Deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

            Carlos Drummond de Andrade 

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