Análise de 35 países aponta que desempenho dos alunos está ligado à
valorização dos docentes. No Brasil, apenas 20% dos pais encorajaria
filhos a seguir profissão
'Os governos devem levar o status do professor a sério', concluiu a Fundação Varkey
O
desempenho dos alunos está ligado à forma como a sociedade vê e
remunera seus professores, afirmou um estudo divulgado nesta
quinta-feira 8. A China lidera o ranking dos 35 países analisados, e o
Brasil tem o pior rendimento.
Os governos que almejam pontuações mais altas na classificação mundial do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) –
que mede as habilidades de jovens em leitura, matemática, ciências e
trabalho em equipe – deveriam concentrar seus esforços na valorização e
nos salários de professores, afirmou o estudo. A pesquisa foi
encomendada pela Fundação Varkey, organização voltada para a educação
baseada em Dubai.
O Índice
Global de Status de Professores (GTSI) da fundação verificou "uma
ligação direta entre o status do professor e o desempenho dos alunos
medidos pelo Pisa". As pesquisa do programa internacional são publicadas
regularmente pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE).
O
GTSI foi calculado por meio do cruzamento dos resultados existentes do
Pisa com respostas sobre professores obtidas por um instituto econômico
baseado na Universidade de Sussex, que analisou mil adultos em cada um
dos 35 países pesquisados, além de 5.500 professores espalhados
desses países.
A
equipe, liderada pelo pesquisador Peter Dolton, também comparou os
resultados de uma amostragem menor de 2013, de 21 países, assim como os
níveis atuais de remuneração e as horas em que os professores afirmam
realmente trabalhar e a carga horária estimada pela opinião pública.
No
GTIS, os países asiáticos – mais especificamente China, Malásia,
Taiwan, Indonésia, Coreia do Sul e Índia – ficaram à frente "de todos os
países europeus e de todas as nações ocidentais".
Ao
comparar seus estudos de 2013 e de 2018, a equipe de pesquisadores
concluiu que o prestígio do professor aumentou em 13 países, tendo a
China a melhor avaliação – embora seja a sétima colocada no Pisa. As
maiores quedas foram registradas na Grécia e no Egito.
Por
outro lado, todos os países da América do Sul tiveram resultados ruins e
foram classificadas na parte inferior do índice, com o Brasil em
último, e a Argentina apenas quatro posições acima. Em 2013, o Brasil
aparecia na penúltima para a última posição.
O estudo destaca que o respeito pelos professores é particularmente baixo no Brasil: apenas 9% acreditam que os alunos o fazem.
Na
maioria dos países europeus, os entrevistados afirmaram achar que os
alunos tendiam a desrespeitar os professores. Apenas 22% dos alemães
afirmaram sentir que os estudantes respeitavam seus professores, em
comparação com a China, na qual 81% dos entrevistados afirmaram que os
professores eram respeitados.
Na
Alemanha, onde o salário dos professores é relativamente alto, apenas
um em cada cinco pais encorajava seus filhos a se tornarem professores,
segundo o estudo. No Brasil, a proporção é a mesma. Enquanto isso, metade dos pais em China, Índia, Gana e Malásia encorajam os filhos a serem educadores.
"Ministros devem levar professores a sério"
Nos
35 países avaliados, os professores ficaram, em média, em sétimo lugar
em termos de status entre 14 profissões mencionadas, com os
entrevistados equiparando o prestígio dos docentes ao dos assistentes
sociais. Na China, os professores receberam uma valorização parecida com
a dos médicos, enquanto no Brasil foram comparados a bibliotecários.
"Há
uma relação clara e sutil entre o respeito pela ocupação de ensino e as
percepções de remuneração que as pessoas têm em relação às profissões
listadas", afirmou o relatório.
"O
alto status do professor não é apenas algo bom para se ter – é cada vez
mais provável que leve a melhores resultados dos alunos", concluíram os
autores do GTSI, que acrescentaram que a confiança nos sistemas de
ensino nos países pesquisados cresceu desde 2013. "Os ministros devem
levar o status do professor a sério e se esforçar para melhorá-lo."
O
estudo do índice GTIS também verificou que, em 28 dos 35 países
analisados, os professores recebiam uma remuneração menor do que os
habitantes de seus países consideravam ser justa. As horas trabalhadas
semanalmente pelos professores também foram subestimadas em 29 países,
com os profissionais latino-americanos com a maior carga horária –
chegando a 13 horas extras no Peru.
A
Fundação Varkey é dirigida por Sunny Varkey, um empreendedor nascido na
Índia e residente em Dubai, cuja empresa GEMS Education, de acordo com
relatórios anteriores da Bloomberg e do jornal americano New York Times,
tornou-se um dos maiores provedores privados de educação no mundo desde
os anos 80. Seus mercados incluem o leste da Ásia e a África.
Por Ian P. Johnson
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