Fulano pagou
uma fortuna de imposto numa transação imobiliária qualquer, e depois
descobriu que um amigo dele tinha feito a mesmíssima coisa sem pagar um
vintém. “Mas como?!” exclamou ele. O amigo explicou que tinha achado o
preço caro, aí apelou para o coração dos funcionários, explicou que
estava sem grana... enfim, os caras se comoveram, acharam uma brecha na
legislação, e ele fez tudo de graça.
Soluções políticas como esta nos revoltam. Afinal, a lei é igual para todos, mas volta e meia ficamos sabemos que a lei foi driblada para favorecer o cunhado de A ou o primo de B. Não me refiro a subornos ou propinas, refiro-me a um simples gesto de simpatia do funcionário para com um cliente que sabe chorar no tom certo.
Não é desonestidade, repito. Dinheiro algum trocou de mãos. Foi um mero favor, um simples drible-de-corpo nos regulamentos, aquele jogo-de-cintura que orgulhosamente chamamos de jeitinho brasileiro.
Você chega esbaforido ao Banco, com uma conta para pagar, e o Banco fechou há cinco minutos. Desesperado, você explica ao guarda: é a inscrição num Congresso, último dia para pagar, você não tem Internet, não sabe fazer no caixa eletrônico...
O guarda pega o papel, olha prum lado, pro outro, e diz: “Sinto muito. A ordem que eu tenho é essa. Não pode”. Você vai pra casa revoltado com essa mentalidade técnica. Quem diabo ele pensa que é? Um suíço?
Tecnicamente falando, o guarda está certo, porque um Banco ou uma repartição não podem ser como um restaurante, que anuncia estar aberto “das 14 horas até o último cliente”. Tem que ter uma hora de fechar, e aí fecha.
Mas... o nosso temperamento se insurge contra essa precisão de relojoaria. Há exceções, ora que diabo! E aí damos graças a Deus quando encontramos um funcionário compreensivo, como eu já encontrei, que pegou meu papel, foi lá dentro, reabriu um guichê, religou uma máquina, processou meu pagamento, e quando eu me desmanchei em agradecimentos, disse apenas: “Da próxima vez chega mais cedo”. Viva o Brasil!
Há dois tipos de comportamento funcional: o técnico e o político.
O técnico significa cumprir os ideais da Constituição, do Código Penal e legislações complementares. A Lei é cega e surda, e é igual para todos.
Mas (quando isto nos prejudica) clamamos por uma atitude mais flexível, mais maleável, e é aí que entra a política. Ela consiste na decisão de considerar “cada caso um caso”, enxergar o individual, o pessoal, para além do anonimato da Lei. A Lei desconhece o favor, que é a moeda preferencial da política.
Nenhum dos dois tipos é bom ou mau em si. O comportamento técnico tanto pode ser justo e correto como pode ser cruel e indiferente. O comportamento político tanto pode ser compreensivo e humano como pode ser caminho aberto para a maracutaia e a corrupção.
Para os dois, amigos, vale a lei (maior e mais sábia) do mel e da farinha. Ficou muito seco? Bota mais mel. Ficou muito molhado? Bota mais farinha.
Soluções políticas como esta nos revoltam. Afinal, a lei é igual para todos, mas volta e meia ficamos sabemos que a lei foi driblada para favorecer o cunhado de A ou o primo de B. Não me refiro a subornos ou propinas, refiro-me a um simples gesto de simpatia do funcionário para com um cliente que sabe chorar no tom certo.
Não é desonestidade, repito. Dinheiro algum trocou de mãos. Foi um mero favor, um simples drible-de-corpo nos regulamentos, aquele jogo-de-cintura que orgulhosamente chamamos de jeitinho brasileiro.
Você chega esbaforido ao Banco, com uma conta para pagar, e o Banco fechou há cinco minutos. Desesperado, você explica ao guarda: é a inscrição num Congresso, último dia para pagar, você não tem Internet, não sabe fazer no caixa eletrônico...
O guarda pega o papel, olha prum lado, pro outro, e diz: “Sinto muito. A ordem que eu tenho é essa. Não pode”. Você vai pra casa revoltado com essa mentalidade técnica. Quem diabo ele pensa que é? Um suíço?
Tecnicamente falando, o guarda está certo, porque um Banco ou uma repartição não podem ser como um restaurante, que anuncia estar aberto “das 14 horas até o último cliente”. Tem que ter uma hora de fechar, e aí fecha.
Mas... o nosso temperamento se insurge contra essa precisão de relojoaria. Há exceções, ora que diabo! E aí damos graças a Deus quando encontramos um funcionário compreensivo, como eu já encontrei, que pegou meu papel, foi lá dentro, reabriu um guichê, religou uma máquina, processou meu pagamento, e quando eu me desmanchei em agradecimentos, disse apenas: “Da próxima vez chega mais cedo”. Viva o Brasil!
Há dois tipos de comportamento funcional: o técnico e o político.
O técnico significa cumprir os ideais da Constituição, do Código Penal e legislações complementares. A Lei é cega e surda, e é igual para todos.
Mas (quando isto nos prejudica) clamamos por uma atitude mais flexível, mais maleável, e é aí que entra a política. Ela consiste na decisão de considerar “cada caso um caso”, enxergar o individual, o pessoal, para além do anonimato da Lei. A Lei desconhece o favor, que é a moeda preferencial da política.
Nenhum dos dois tipos é bom ou mau em si. O comportamento técnico tanto pode ser justo e correto como pode ser cruel e indiferente. O comportamento político tanto pode ser compreensivo e humano como pode ser caminho aberto para a maracutaia e a corrupção.
Para os dois, amigos, vale a lei (maior e mais sábia) do mel e da farinha. Ficou muito seco? Bota mais mel. Ficou muito molhado? Bota mais farinha.
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
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