Ursula-escrevendo, não “a escritora”,
e não era tão plural assim,
e trabalhava com corujas, não com pardais,
era jovem, e rabiscava à meia noite:
eu cheguei a um lugar
que não enxergava bem na escuridão
onde a estrada dava uma volta
e se dividia, parecendo
ir em direções diferentes,
e eu me perdi.
Eu não sabia o caminho.
Parece que uma placa indicava: “Cidade”
e a outra nada dizia.
E foi este o caminho que eu segui.
Segui
a mim mesma.
“Eu não ligo,” disse eu,
aterrorizada.
“Não ligo se ninguém nunca ler isto!
Vou por este caminho aqui.”
E eu me achei
na floresta escura, no silêncio.
Talvez você tenha que encontrar a si mesma,
a vocês mesmos,
na floresta escura.
De qualquer modo, foi isto que fiz.
E ainda agora, e sempre. Nos momentos ruins.
Quando você acha a lingueta oculta
na gaveta secreta
por trás do painel falso
dentro do compartimento escondido
na escrivaninha do sótão
da casa na floresta escura,
e aperta na mola com firmeza
e uma porta se abre, revelando
um maço de cartas antigas,
e numa delas
há um mapa da floresta
que você mesma desenhou
antes de chegar ali.
A Escritora Em Pleno Trabalho:
eu a vejo caminhando
numa trilha da floresta densa
ou num dédalo, num labirinto.
Ao caminhar ela tece um fio
e esse fio muito fino vai ficando para trás
seguindo seu caminho
dizendo
para onde ela está indo,
por onde ela já passou.
Contando a história.
A linha, esse fio de voz,
as frases dizendo a estrada.
A Escritora Em Pleno Trabalho:
Eu a vejo, também, eu posso vê-la
deitada sobre aquilo.
Deitada, de manhã cedinho,
sem nenhum conforto.
Tentando se convencer
de que é um leito de rosas,
um lençol de louros,
ou um colchão de molas
ou pelo menos um colchonete.
Mas ela continua a se remexer.
Tem um caroço aqui, diz ela.
Aqui embaixo tem uma pedra,
como uma lentilha,
e eu não consigo dormir.
Tem alguma coisa
do tamanho de meia ervilha
que eu não escrevi ainda,
que eu não escrevi direito.
Não consigo dormir.
Ela se levanta
e escreve.
Seu trabalho
nunca está pronto."
(Ursula K. Le Guin, em “The Writer on, and at, Her Work”, trad. BT)
Parece que uma placa indicava: “Cidade”
e a outra nada dizia.
E foi este o caminho que eu segui.
Segui
a mim mesma.
“Eu não ligo,” disse eu,
aterrorizada.
“Não ligo se ninguém nunca ler isto!
Vou por este caminho aqui.”
E eu me achei
na floresta escura, no silêncio.
Talvez você tenha que encontrar a si mesma,
a vocês mesmos,
na floresta escura.
De qualquer modo, foi isto que fiz.
E ainda agora, e sempre. Nos momentos ruins.
Quando você acha a lingueta oculta
na gaveta secreta
por trás do painel falso
dentro do compartimento escondido
na escrivaninha do sótão
da casa na floresta escura,
e aperta na mola com firmeza
e uma porta se abre, revelando
um maço de cartas antigas,
e numa delas
há um mapa da floresta
que você mesma desenhou
antes de chegar ali.
A Escritora Em Pleno Trabalho:
eu a vejo caminhando
numa trilha da floresta densa
ou num dédalo, num labirinto.
Ao caminhar ela tece um fio
e esse fio muito fino vai ficando para trás
seguindo seu caminho
dizendo
para onde ela está indo,
por onde ela já passou.
Contando a história.
A linha, esse fio de voz,
as frases dizendo a estrada.
A Escritora Em Pleno Trabalho:
Eu a vejo, também, eu posso vê-la
deitada sobre aquilo.
Deitada, de manhã cedinho,
sem nenhum conforto.
Tentando se convencer
de que é um leito de rosas,
um lençol de louros,
ou um colchão de molas
ou pelo menos um colchonete.
Mas ela continua a se remexer.
Tem um caroço aqui, diz ela.
Aqui embaixo tem uma pedra,
como uma lentilha,
e eu não consigo dormir.
Tem alguma coisa
do tamanho de meia ervilha
que eu não escrevi ainda,
que eu não escrevi direito.
Não consigo dormir.
Ela se levanta
e escreve.
Seu trabalho
nunca está pronto."
(Ursula K. Le Guin, em “The Writer on, and at, Her Work”, trad. BT)
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