"Bergen-Belsen, Dachau, Treblinka, Buchenwald,
Auschwitz-Birkenau. Cinco
nomes que todos conhecemos e que identificam, na Europa, o pior do que o homem
é capaz. Mas havia mais, muitos mais construídos pelos nazis entre campos de
concentração, subcampos e campos de passagem, uma viagem de suplício para
milhões de pessoas e uma das histórias europeias mais negras de sempre. “Nunca
mais” prometeram os alemães depois da guerra e a promessa pode aplicar-se a
tudo – à guerra, ao extermínio, à destruição, a perseguições lançadas
cirurgicamente sobre os outros. Conhecemos os nomes dos campos, vemos os
filmes, seguimos as séries de televisão, lemos os livros que contam o mesmo
horror. Olhando para a Europa de hoje, não é nada certo que tenhamos aprendido
a lição. Talvez seja também por isso que cada uma das viagens papais a Auschwitz
continue a ser classificada como “histórica”. João Paulo II esteve aqui em
junho de 1979, Bento XVI em maio de 2006, ontem veio Francisco. Há 37 anos, o
papa polaco pediu o fim da guerra em Auschwitz e o papa alemão questionou o
silêncio de Deus perante tanto sofrimento. Nesta sexta-feira, o papa argentino
pediu o perdão divino para tanta crueldade. Mesmo antes de passar os portões,
Francisco disse aos jornalistas que gostaria de ir àquele lugar do horror sem
discursos nem multidões. Queria entrar sozinho e rezar. E que lhe fosse dada “a
Graça de chorar”. Há qualquer coisa que muda quando se passa para o outro lado
do arame farpado. Em Buchenwald, lê-se ainda sobre os portões “Jedem dem
Seine”, a cada um aquilo que merece, palavras mais cínicas ainda do que aquelas
que se continuam a ler em Auschwitz (o trabalho liberta). Talvez seja o vento,
o lugar vazio e agora raso onde antes se erguiam as camaratas dos prisioneiros,
a terra seca onde não se vê crescer uma única erva, as chaminés ao longe que
não precisam de legenda. Pelo menos uma vez na vida devemos passar pelos
portões silenciosos de Auschwitz, Buchenwald ou Treblinka. Não há nada para
ver, mas tudo para sentir.”
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