Esse é o título de um conto do livro "Triângulos" da Betty Vidigal sobre
o qual falarei oportunamente. Mas a leitura do conto imediatamente
remeteu-me a uma história verdadeira que vou contar omitindo o nome dos
personagens por motivos óbvios. Na usina de açúcar o acionista
majoritário era um rei. Respeitado, temido, odiado ou amado, não passava
desapercebido. Era o todo poderoso. Ainda mais quando não era herdeiro
do império. Já estava na casa dos sessenta, e no escritório da usina sua
sala era ampla toda forrada de lambri escuro. Sobre a porta pelo lado
de fora havia uma lâmpada vermelha. Ela era acionada por um botão fixo
na parede atrás da mesa do usineiro, à um metro do chão. Sua secretária
tinha mesa no salão em frente a porta e a luz. Não entrava ou saí, por
essa porta, ninguém sem estrita ordem dela. E zelava muito por essa
autoridade. Havia na sala do chefe uma outra porta externa por onde ele
entrava e saía, e só ele tinha a chave. A luz vermelha acesa era sinal
de que ninguém poderia entrar pela porta do salão. Nem a secretária.
Isso era sagrado. Certo dia no final da tarde a zelosa secretária se viu
em papos de aranha. A luz vermelha começou a piscar. Acendia e apagava,
acendia e apagava numa velocidade inédita, e num ritmo curioso. Nunca
acontecido antes. A secretária estranhou, ficou uns instantes com os
olhos fixos na lâmpada imaginando que poderia ser só um mau contato. Em
fração de segundos lhe ocorreu que poderia ser uma emergência. Por fim
assustada, não resistiu, e correu para a porta. Abriu com cuidado uma
fresta e lá estava o usineiro de costas, calça arriada, abraçado numa
mulher cuja bunda, inadvertidamente, mas num ritmo compassado, apertando
e soltando, apertava e soltava o botão da luz vermelha.
Eduardo P. Lunardelli
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