Já comentei aqui (20 de janeiro) Não contem com o fim do livro,
uma recolha de diálogos entre Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, os
quais discorrem sobre o incêndio de bibliotecas, a destruição de livros
por ditadores e censores, a obsolescência dos meios de registro, o mero
esquecimento.
Carrière observa que a Biblioteca Nacional da França, criada por volta de 1820, tem pelo menos dois milhões de livros que jamais foram consultados. Com o livro eletrônico, esse sintoma pode se agravar.
Como vai ser possível preservar cada vez mais, porque não teremos o problema de espaço (a Biblioteca Nacional da França caberia num HD do tamanho da minha mesa), serão cada vez mais preservados os livros inúteis, os livros redundantes, os livros desinteressantes, os livros que ninguém quereria ler mesmo que soubesse de sua existência. Tiro isto por mim, que leio compulsivamente: 90% dos livros que existem não me interessam.
Mais ameaçador do que o livro eletrônico, contudo, é o neo-liberalismo editorial, ou capitalistalinismo.
Estou agora enfiado nas páginas de O Negócio dos Livros – Como as grandes corporações decidem o que você lê (Casa da Palavra, 2006). O autor é André Schiffrin, ex-editor da Pantheon Books, que já foi uma das grandes (em qualidade) editoras dos EUA antes de ser fagocitada pelos conglomerados econômicos que estão, mais depressa do que qualquer engenhoca feita de pixels, promovendo a destruição do livro.
Não do livro como artefato de folhas de papel impressas, mas do livro como meio de transmitir idéias.
A bibliodiversidade (a pluralidade de idéias, de abordagens, de assuntos, de leituras e de leitores) é a própria natureza da cultura. O contrário de “cultura” é “monocultura”. Essas grandes corporações estão pegando a diversidade cultural, passando o trator por cima e transformando o mercado editorial num imenso campo de soja ou de cana-de-açúcar.
É a lógica da maximização dos lucros através da uniformização dos produtos. Vender uma única coisa, produzida de uma única maneira, é mais rentável do que vender 400 coisas produzidas de 400 maneiras diferentes, mesmo que cada uma dessas 400 dê um pequeno lucro. Para a lógica de hoje, pequeno lucro é prejuízo. Já vi um neo-capitalista se queixando numa entrevista: “Se eu tinha um lucro anual de 200% e agora meu lucro caiu para 100%, é óbvio que tive na realidade um prejuízo de 50%”.
Hoje, cinco grandes conglomerados controlam 80% das vendas de livros nos EUA (Time-Warner, Disney, Viacom/CBS, Bertelsmann e News Corporation). Nenhum veio do meio editorial.
São grupos de telecomunicações que estão comprando todas as editoras de livros, fechando as séries e coleções que dão pouco lucro, e transformando o livro num apêndice da telecomunicação.
A ameaça não é o fim do livro de papel: é o fim do texto literário e crítico. Isso, sim, amigos, é de fazer perder o sono. O que é pior, um e-book com Shakespeare ou as memórias de Nancy Reagan num livro de papel?
Carrière observa que a Biblioteca Nacional da França, criada por volta de 1820, tem pelo menos dois milhões de livros que jamais foram consultados. Com o livro eletrônico, esse sintoma pode se agravar.
Como vai ser possível preservar cada vez mais, porque não teremos o problema de espaço (a Biblioteca Nacional da França caberia num HD do tamanho da minha mesa), serão cada vez mais preservados os livros inúteis, os livros redundantes, os livros desinteressantes, os livros que ninguém quereria ler mesmo que soubesse de sua existência. Tiro isto por mim, que leio compulsivamente: 90% dos livros que existem não me interessam.
Mais ameaçador do que o livro eletrônico, contudo, é o neo-liberalismo editorial, ou capitalistalinismo.
Estou agora enfiado nas páginas de O Negócio dos Livros – Como as grandes corporações decidem o que você lê (Casa da Palavra, 2006). O autor é André Schiffrin, ex-editor da Pantheon Books, que já foi uma das grandes (em qualidade) editoras dos EUA antes de ser fagocitada pelos conglomerados econômicos que estão, mais depressa do que qualquer engenhoca feita de pixels, promovendo a destruição do livro.
Não do livro como artefato de folhas de papel impressas, mas do livro como meio de transmitir idéias.
A bibliodiversidade (a pluralidade de idéias, de abordagens, de assuntos, de leituras e de leitores) é a própria natureza da cultura. O contrário de “cultura” é “monocultura”. Essas grandes corporações estão pegando a diversidade cultural, passando o trator por cima e transformando o mercado editorial num imenso campo de soja ou de cana-de-açúcar.
É a lógica da maximização dos lucros através da uniformização dos produtos. Vender uma única coisa, produzida de uma única maneira, é mais rentável do que vender 400 coisas produzidas de 400 maneiras diferentes, mesmo que cada uma dessas 400 dê um pequeno lucro. Para a lógica de hoje, pequeno lucro é prejuízo. Já vi um neo-capitalista se queixando numa entrevista: “Se eu tinha um lucro anual de 200% e agora meu lucro caiu para 100%, é óbvio que tive na realidade um prejuízo de 50%”.
Hoje, cinco grandes conglomerados controlam 80% das vendas de livros nos EUA (Time-Warner, Disney, Viacom/CBS, Bertelsmann e News Corporation). Nenhum veio do meio editorial.
São grupos de telecomunicações que estão comprando todas as editoras de livros, fechando as séries e coleções que dão pouco lucro, e transformando o livro num apêndice da telecomunicação.
A ameaça não é o fim do livro de papel: é o fim do texto literário e crítico. Isso, sim, amigos, é de fazer perder o sono. O que é pior, um e-book com Shakespeare ou as memórias de Nancy Reagan num livro de papel?
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
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