quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Na véspera do Natal de 1957, por volta das 20h, um jato De Havilland Vampire decolou da base de Celle no norte da Alemanha com destino à Suffolk, Inglaterra. Seu piloto, um jovem Tenente da RAF, estava ansioso para chegar a tempo de celebrar as festas de final de ano junto à família. O céu noturno, apesar das nuvens, estava calmo e tudo corria muito bem. 

Após vinte minutos de voo, no entanto, o piloto do jato alarmou-se ao notar falhas em seus instrumentos de navegação. A claridade avermelhada do seu painel de bordo vacilou, acusando problemas elétricos. Por precaução, chamou o controle de voo de Celle, mas não obteve resposta. Chamou repetidamente, alterando as frequências. Nada. Nem mesmo o barulho da estática seus fones acusavam.

Paulatinamente, a pane se transformou numa grave crise, pois com o sistema de navegação e o rádio inoperantes, o voo ficou sem rumo e pior, sem rastreio e apoio terrestre.

Notando o combustível baixar nos tanques, o Tenente deu-se conta da dramática situação em que se metera. Sem saber para onde estava indo, era apenas uma questão de tempo, o avião mergulhar em algum ponto do Mar do Norte. Mesmo que conseguisse ejetar-se, as águas geladas não o poupariam; sua morte parecia inevitável.

Começava a resignar-se ao seu trágico destino quando, súbito, percebe uma sombra que se movimenta por entre as nuvens chamando sua atenção. Estupefato, o piloto do Vampire identifica um velho bimotor Mosquito da Segunda Guerra voando a poucos metros à esquerda, fazendo vigorosos sinais com suas asas, indicando “siga-me”. Na altura das insígnias da fuselagem as letras JK, grandes e brancas. Um pastor! Já ouvira falar deles, principalmente em histórias do tempo da guerra, quando aviadores de grande experiência, voavam pela noite resgatando aviões em dificuldades.

Crispado em seus comandos o piloto do jato segue fielmente cada movimento do Mosquito, que contorna as nuvens com determinação de quem sabe o que faz. Voando às cegas em meio à densa cerração, o angustiado Tenente acompanha com o canto dos olhos o marcador do combustível chegando a zero. Repentinamente, nota que o avião pastor abaixa suas rodas e flaps. Célere, o Vampire copia seus gestos. 

Com a turbina aspirando as últimas gotas de combustível, finalmente vê à sua frente uma fileira de luzes demarcando uma pista de aterrissagem. O pouso foi preciso e freando o avião entre dois hangares, o piloto do jato observa que nem foi preciso desligar o motor. Ele já havia apagado durante a rolagem final pela pista do dispersal.

Um sargento de uniforme desgastado e sujo de óleo vai ao seu encontro e tão surpreso quanto o recém-chegado, ajuda-o a desembarcar e fechar o cockipt.

Conduzindo o Tenente para dentro das instalações do antigo aeródromo, o ajudante de ordens indaga: Não o esperávamos Senhor. Como nos achou?


Aturdido e ainda custando a acreditar na sua incrível sorte, o piloto do Vampire não consegue uma resposta plausível para o que acabara de lhe acontecer. Incrível que aquele piloto do Mosquito o tenha interceptado no ar. Um milagre!


Ao ser levado para a antessala de um antigo alojamento, notou na parede um quadro com uma foto amarelada pelo tempo. Na imagem, um piloto vestindo uniforme de voo da Segunda Guerra e atrás, o possante Mosquito com as letras JK em sua fuselagem.

Ao indagar como fazer para agradecer àquele piloto que o salvara, o velho Sargento explicou: “Impossível, Senhor! Esse, ai na foto é o Capitão Johnny Kavanagh, um sujeito extraordinário. Tinha uma capacidade excepcional para voos noturnos. Quando não estava em missão, costumava decolar de noite à procura de aviões avariados e em dificuldades, guiando-os de volta à base. Seu último voo foi há 14 anos. Durante um desses voos de salvamento, Johnny foi abatido e desapareceu em algum lugar do Mar do Norte.


(Baseado no livro “O Pastor”, de Frederick Forsyth)

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