Quantas vezes em meio ao barulho da vida diária, nos esquecemos de escutar àquilo que vem de dentro de nós.
Buzinas
de carro, crianças agitadas, o barulho nas ruas, o som ligado do rádio e
da TV, a opinião alheia… uma avalanche de informações que vem de todos
os lados e a todo momento.
Quando nos damos conta, estamos impregnados pelo que vem de fora, quase que abarrotados dos outros e vazios de nós mesmos.
Vemos
nossa casa interna entulhada com as mais diversas quinquilharias. Nos
vemos ansiosos, estressados ou deprimidos, sem nem mesmo saber porque.
Transformamos nossos corpos em puros veículos que nos carregam para onde
segue nosso desejo ou nosso sentimento de obrigação.
Mas, se
paramos por poucos segundos e fecharmos nossos olhos, o que perceberemos
é que também há um grande barulho dentro de nós. Ele pode ser
representado pelos olhos que, mesmo fechados, sentem uma pressão, como
se piscassem. Ou pela respiração sufocada, que pede incessante por um
respirar mais profundo. Ou ainda, por um pulsar interno que invade todo o
corpo, mostrando que nossos motores estão a todo vapor.
Essa
pequena pausa para perceber-se pode ser essencial para a escuta do corpo
e alma. Ouvir, discriminar e interpretar os barulhos de dentro nos
ajudam a compreender nossos conflitos, nossas intenções e nossas
necessidades. Ao nos percebermos com atenção, podemos nos perguntar por
exemplo: Por que nos colocamos neste movimento atribulado em relação a
vida?
Corremos em direção a algum lugar… ou na verdade corremos de
algo do qual queremos fugir ou escapar? Nosso barulho oculta algum
outro som que tememos ouvir? Todo esse ruído pode estar encobrindo a
nossa própria voz?
Para alguns, deixar que a voz interior se
manifeste pode ser amedrontador. Ela pode trazer à tona sentimentos e
desejos conflitantes com o momento de vida que se está vivendo ou para o
qual se deseja viver. Mas mesmo calada, essa voz teima em estremecer
dentro de nós. Ela se agita nos sintomas, sussurra em nossos sonhos,
esbraveja através do nosso cansaço e reluta em reivindicar um espaço
para se manifestar.
Muitas vezes, percebemos essa voz como
verdadeiros monstros cuspidores de fogo que nos consome as forças. Mas, é
no encontro com o dragão que também temos a oportunidade de ativar o
verdadeiro herói que se esconde em nosso interior: aquele que nos guia
corajosamente em busca do tesouro prometido, que não se esquece do seu
propósito e amadurece a cada batalha.
Nossa voz, mesmo sobre a
forma de dragão enfurecido, pode ser a nossa salvação. Ela nos conta
sobre as necessidades da nossa alma, concebida para a realização. Ela
nos desafia porque precisa ser reconhecida. E é bem provável que ela
tenha toda razão!
Arte de capa: Sonia Koch
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