Exmo. Senhor Ministro Ricardo Barros,
A
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), entidade que representa 35 mil
pediatras que atuam no País, cerca de 70% no atendimento de crianças e
adolescentes na rede pública, tem ciência dos meandros políticos de sua
indicação para ocupar o cargo do mais alto escalão na gestão do Sistema
Único de Saúde (SUS) e, continuamente, tem colocado especialistas à
disposição do Governo Federal na tentativa de encontrar respostas para
os históricos problemas que afetam o SUS, em todos os níveis de
complexidade.
Esse
é o compromisso que guia a SBP, independentemente de questões políticas
ou ideológicas: contribuir para a melhoria da oferta do atendimento em
saúde para a população. Contudo, é impossível para nós, pediatras,
ficarmos calados diante de afrontas propositais, resultado de
comentários e insinuações que nem de longe refletem a realidade da
assistência no País.
A
pediatria brasileira expressa, assim, sua profunda indignação com essa
estratégia clara de promover polêmicas e lançar sobre os ombros dos
médicos a responsabilidade pelas falhas da gestão do SUS, nas esferas
federal, estadual e municipal. Contudo, ao contrário de frases de cunho
pejorativo, os dados do próprio Ministério da Saúde comprovam a
impertinência da generalização infundada.
Senhor
Ministro, os médicos brasileiros, em particular os pediatras, “não
fingem trabalhar”, conforme sua declaração pública. Eles trabalham, sim,
e muito. Em 2016, foram realizadas mais de 43 milhões de consultas
pediátricas, ou seja, cada pediatra que atua na rede pública respondeu,
em média, por 1,8 mil atendimentos no período. No ano passado, o SUS
também contabilizou quase 1,9 milhão de partos (normais e cesáreos),
sendo a grande maioria deles acompanhados diretamente por pediatras.
A
pediatria – e todas as suas áreas de atuação – está presente nas
diferentes fases do atendimento de crianças e adolescentes, com ênfase
na atenção básica. Historicamente, tem participado dos grandes programas
nacionais, tais como campanhas de imunização, de nutrição, entre
outros. Tal comprometimento é responsável pela significativa melhora dos
indicadores de saúde.
Senhor
Ministro, não se pode responsabilizar os médicos pela falta de
infraestrutura nos postos de saúde e nos hospitais; pelo
desabastecimento de insumos e medicamentos; pela dificuldade de acesso a
exames, de forma particular aos de média e alta complexidade; pelo
déficit de 10 mil leitos de internação pediátrica, fechados entre 2010 e
2016.
O
SUS está doente e queremos sua recuperação. Lutamos para mantê-lo vivo e
ativo todos os dias e não aceitamos que transformem essa agonia numa
pauta de interesse político. Continuaremos a fazer nossa parte. Nós,
pediatras e demais médicos, manteremos nosso trabalho porque os
pacientes precisam de nós.
Contudo,
Senhor Ministro, basta de provocações. Exigimos valorização e respeito
pelo nosso compromisso permanente com a saúde, o qual não se pauta por
interesses outros que não a vida e o bem-estar de milhões de
brasileiros.
Rio de Janeiro, 17 de julho de 2017.
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