Um artigo de Barbara Ehrenreich (publicado no New York Times e reproduzido em seu blog) vem corroborar uma série de diagnósticos sobre a recente crise dos 4 trilhões de dólares. Como se
sabe, investidores (= “indivíduos que investem em cima do dinheiro
alheio como gatos investem em cima de ratos”) no mercado imobiliário
norte-americano passaram anos financiando imóveis em condições
“irresistíveis” para pessoas que não podiam pagar por eles. Isso era
visto como um incentivo à compra da casa própria, como uma ajuda a
populações de baixa renda, um trabalho social, etc. Acontece que as
pessoas começaram a não pagar e os investidores começaram a falir. Já falei aqui sobre a influência do café nesse processo, como droga euforizante (“O capitalismo e a Starbucks”, 15.11.2008). O artigo de
Ms Ehrenreich fala do efeito deletério do pensamento positivo, essa
praga que arruína o mundo dizendo no ouvido das pessoas: “Todos os seus
desejos serão realizados, basta querer”. Diz ela que
existe na cultura americana um esforço generalizado, que vai desde
programas de TV a pastores de igreja, desde estratégias de mercado até
livros de auto-ajuda, levando as pessoas a “acreditarem que elas irão
conseguir o que querem, não apenas porque isso as fará sentir-se melhor,
mas porque pensar positivamente nas coisas, visualizá-las,
ardentemente, com concentração, fará com que elas aconteçam”. É o bom e
velho otimismo norte-americano erigido em força mágica. Ela prossegue: “Todo mundo
sabe que você só consegue um emprego que pague mais de 15 dólares a hora
se for uma pessoa positiva, uma pessoa livre de dúvidas, sem visão
crítica, e sorridente. (...) Os livros nos aeroportos gritam contra o
negativismo e advertem o leitor a ser otimista o tempo inteiro, cheio de
confiança. As empresas reforçam isto proporcionando aos seus
funcionários palestras motivacionais cheias de histeria”. É algo
entranhado na cultura dos EUA, essa crença maníaca de que não apenas as
coisas podem dar certo, mas darão certo mesmo, se quisermos pra valer. Daí, segundo
Ehrenheich, que “ninguém estava psicologicamente preparado para tempos
duros, quando eles chegaram, porque, de acordo com as premissas do
pensamento positivo, pensar em problemas é atraí-los”. E toda essa
bolha de trilhões de dólares era administrada por “uma nova classe de
bilionários e centi-milionários que moram em Lear-Jets e se hospedam em
hotéis de milhares de dólares a noite, e que podem mandar um avião
particular comprar seu vinho preferido ou trazer o animal de estimação
que deixaram para trás”. Isto quer
dizer que devemos ser derrotistas, lúgubres, medrosos? De jeito nenhum.
Essa é a burrice equivalente no extremo oposto. Mas não tenho dúvidas
de que a economia mundial entrou nesta crise devido, em grande parte, a
essa crença absurda de que basta querer para conseguir, de que nossos
desejos existem para serem satisfeitos, se os desejarmos com força
suficiente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário