Os
ministros do STF Gilmar Mendes, Dias Tófolli e Ricardo Levandovisk
soltaram Zé Dirceu. Convido meus amigos do Face a ler o texto abaixo, da
lavra da juíza Ludmila Lins Grillo, com o qual o País todo concorda plenamente.
Esse texto, conforme a autora foi escrito em dezembro de 2016
"Sempre que
o STF profere alguma decisão bizarra, o povo logo se apressa para
sentenciar: “a Justiça no Brasil é uma piada”. Nem se passa pela cabeça
da galera que os outros juízes – sim, os OUTROS – se contorcem de
vergonha com certas decisões da Suprema Corte, e não se sentem nem um
pouco representados por ela.
O que
muitos juízes sentem é que existem duas Justiças no Brasil. E essas
Justiças não se misturam uma com a outra. Uma é a dos juízes por
indicação política. A outra é a dos juízes concursados. A Justiça do STF
e a Justiça de primeiro grau revelam a existência de duas categorias de
juízes que não se misturam. São como água e azeite. São dois mundos
completamente isolados um do outro. Um não tem contato nenhum com o
outro e um não se assemelha em nada com o outro. Um, muitas vezes,
parece atuar contra o outro. Faz declarações contra o outro. E o outro,
por muitas vezes, morre de vergonha do um.
Geralmente,
o outro prefere que os “juízes” do STF sejam mesmo chamados de
Ministros – para não confundir com os demais, os verdadeiros juízes. A
atual composição do STF revela que, dentre os 11 Ministros (sim,
M-I-N-I-S-T-R-O-S!), apenas dois são magistrados de carreira: Rosa Weber
e Luiz Fux. Ou seja: nove deles não têm a mais vaga ideia do que é
gerir uma unidade judiciária a quilômetros de distância de sua família,
em cidades pequenas de interior, com falta de mão-de-obra e de
infra-estrutura, com uma demanda acachapante e praticamente
inadministrável.
Julgam
grandes causas – as mais importantes do Brasil – sem terem nunca sequer
julgado um inventariozinho da dona Maria que morreu. Nem uma pensão
alimentícia simplória. Nem uma medida para um menor infrator, nem um
remédio para um doente, nem uma internação para um idoso, nem uma
autorização para menor em eventos e viagens, nem uma partilhazinha de
bens, nem uma aposentadoriazinha rural. Nada. NADA.
Certamente
não fazem a menor ideia de como é visitar a casa humilde da senhorinha
acamada que não se mexe, para propiciar-lhe a interdição. Nem imaginam
como é desgastante a visita periódica ao presídio – e o percorrer por
entre as celas. Nem sonham com as correições nos cartórios
extrajudiciais. Nem supõem o que seja passar um dia inteiro ouvindo
testemunhas e interrogando réus. Nunca presidiram uma sessão do Tribunal
do Júri. Não conhecem as agruras, as dificuldades do interior. Não
conhecem nada do que é ser juiz de primeiro grau. Nada. Do alto de seus
carros com motorista pagos com dinheiro público, não devem fazer a menor
ideia de que ser juiz de verdade é não ter motorista nenhum. Ser juiz é
andar com seu próprio carro – por sua conta e risco – nas estradas de
terra do interior do Brasil . Talvez os Ministros nem saibam o que é uma
estrada de terra – ou nem se lembrem mais o que é isso. Às vezes, nem a
gasolina ganhamos, tirando muitas vezes do nosso próprio bolso para
sustentar o Estado, sem saber se um dia seremos reembolsados - muitas
vezes não somos.
Será que os
juízes, digo, Ministros do STF sabem o que é passar por isso? Por que
será que os réus lutam tanto para serem julgados pelo STF (o famoso
“foro privilegiado") – fugindo dos juízes de primeiro grau como o diabo
foge da cruz? Por que será que eles preferem ser julgados pelos “juízes”
indicados politicamente, e não pelos juízes concursados?
É por essas
e outras que, sem constrangimento algum, rogo-lhes: não me coloquem no
mesmo balaio do STF. Faço parte da outra Justiça: a de VERDADE.''
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