O maior e melhor clichê dos gestos de que tratarei
nesta crônica é o dos "Tempos Modernos" do imortal Charlie Chaplin.
Aqueles que repetimos diariamente e na mesma sequência. Com a idade, então,
eles vão ficando cada vez mais mecânicos e insuportavelmente repetitivos. Ao
acordar o ato de espreguiçar, alongando braços e pernas dá início à maratona de
gestos que se sucedem quase que automaticamente. Virar para o lado e olhar as
horas no criado-mudo. Invariavelmente é sempre a mesma hora. Até parece que o
relógio esta parado com os ponteiros naquela posição. Olhar no espelho do
banheiro, e fazer um ar desolado com a imagem. Cabelos desalinhados, e olhos
inchados. Pegar a escova de dente, abrir a pasta, dar uma pequena umedecida, e
depois de escovar, dar duas rápidas batidas com o cabo na beirada da pia. Fazer
barba é um ritual de gestos idênticos. Esquentar a água, molhar o pincel,
esfrega-lo no sabão Phebo, dentro de uma cuia, dar duas ou três pinceladas, e
ensaboar o rosto. Esse sabonete que foi feito para ser usado como creme de
barba, descobri faz mais espuma, e de melhor qualidade, do que qualquer creme
específico. Depois são os gestos com o barbeador da Gillette, XPTO-da-SILVA, que
diz a publicidade faz mais barbas por um menor preço, e mais conforto. Começo
pelas costeletas da direita, e faço sempre o mesmo percurso, até retirar toda a
espuma e a barba de um dia. Herança de um hábito familiar. Meu avô e meu pai
sempre fizeram barba todos os dias. Já o Guilherme, meu filho, usa aquela barba
de sete-dias, que esta na moda. Depois o banho de chuveiro tem o mesmo ritual
de sempre. Começo pela careca, e termino lavando os pés, em gestos sempre
parecidos. Até o fato de o sabonete cair, e ter de encontra-lo no piso do
chuveiro, com os olhos semicerrados, por conta da água e sabão, são os mesmos.
Só varia o lugar que ele se esconde. Enxugar o corpo tem o mesmo ritual,
sempre. Passar a mão no espelho para desembaça-lo e poder pentear o que me
sobrou de cabelo sobre as orelhas, e assim por diante, todos os dias, os mesmos
gestos.
Eduardo P. Lunardelli
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