Todo adulto tem na memória
de sua infância uma ave. A minha é a arara azul. Ela ficava solta no mirante,
que também servia de suporte para a caixa d´água, da sede da fazenda. Todas as
férias escolares passávamos lá. A arara azul falava duas palavras,
Arara e Paulo. Paulo é o nome do meu irmão, porém não sei a razão dela
ter escolhido o nome dele, e não o meu. Talvez porque ele era mais traquina, e
nossa mãe sempre estava aos gritos chamando Paaualoo por alguma razão. A arara
repetia: Paulo. E quando falávamos com ela, com a arara, ela repetia araaraa para
nosso deleite. Meus filhos não conheceram a arara azul. Mas tiveram algum contato
com o interior, passando algumas férias na fazenda. Já no tempo deles era proibido
manter aves em cativeiro. Conheceram os sabiá, bem-te-vi, anu preto e
anu branco, periquito, papagaio e maritaca. Mas nenhum deles tem a beleza,
graça e inteligência da minha arara azul. Agora, meus netos, já vão pouco para a
fazenda. São muito mais urbanos. Tem se contentado com pombos nas calçadas da
cidade. Levei minha neta de dois anos ao Zoológico e o único pássaro entre os
hospedes que ela realmente se encantou, correu atrás, e quis alimentar, foram os
pombos que corriam trás dos visitantes, para ganharem amendoim, e milho de
pipoca. Pombos urbanos. As aves, e as cores de suas penas, estão sofrendo o
mesmo empobrecimento que vive o país. Não se pode comparar uma arara azul, com
um pombo. Por mais que eu goste de pombos, seu andar, suas plumagens, e seu arrulhar
não se compara ao colorido, ao voo, e a inteligência e grito das
araras. Meu avô teve em plena rua Treze de Maio, em São Paulo, um grande
viveiro de pássaros no jardim. Muitas gaiolas com canários. E era
permitido
cria-los em cativeiro. Hoje isso parece coisa do tempo da escravidão. A
liberdade que foi dada às aves, nem sempre ajudou a preserva-las. Ou
porque foram perseguidas, ou seus habitas naturais foram dizimados pelo
homem.
As araras azuis eram
mais comuns que as vermelhas. Mas vi bandos de araras vermelhas em Mato Grosso,
no Pantanal, em Goiás e no Pará. Faz tempo que não vou para aquelas bandas, mas
tenho notícia que diminuíram muito. Uma pena, minha neta vai ter que se
contentar com pombos.
Eduardo P. Lunardelli
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