Sobre poesia/poeta:
[...]
“Um operário parte de
um monte de tijolos sem significação especial senão serem tijolos para —
sob a orientação de um construtor que por sua vez segue os cálculos de
um engenheiro obediente ao projeto de um arquiteto — levantar uma casa.
Um monte de tijolos é um monte de tijolos. Não existe beleza específica.
Mas uma casa pode ser bela, se o projeto de um bom arquiteto tiver a
estruturá-lo os cálculos de um bom engenheiro e a vigilância de um bom
construtor no sentido do bom acabamento, por um bom operário, do
trabalho em execução.
“Troquem-se tijolos por palavras,
ponha-se o poeta, subjetivamente, na quádrupla função de arquiteto,
engenheiro, construtor e operário, e aí tendes o que é poesia. A
comparação pode parecer orgulhosa, do ponto de vista do poeta, mas,
muito pelo contrário, ela me parece colocar a poesia em sua real posição
diante das outras artes: a de verdadeira humildade. O material do poeta
é a vida, e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdido e sublime. Seu
instrumento é a palavra. Sua função é a de ser expressão verbal rítmica
ao mundo informe de sensações, sentimentos e pressentimentos dos outros
com relação a tudo o que existe ou é passível de existência no mundo
mágico da imaginação. Seu único dever é fazê-lo da maneira mais bela,
simples e comunicativa possível, do contrário ele não será nunca um bom
poeta, mas um mero lucubrador de versos.”
[...]
(MORAES,
Vinicius. Sobre poesia. In: _____. Uma mulher chamada guitarra:
crônicas escolhidas de Vinicius de Moraes. São Paulo: Boa Companhia, 1.
ed., 2013, pp. 68-9.)
Sugestão de postagem do amigo Adauto Neto
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