domingo, 19 de março de 2017

Vinicius de Moraes

Sobre poesia/poeta: 

[...]
“Um operário parte de um monte de tijolos sem significação especial senão serem tijolos para — sob a orientação de um construtor que por sua vez segue os cálculos de um engenheiro obediente ao projeto de um arquiteto — levantar uma casa. Um monte de tijolos é um monte de tijolos. Não existe beleza específica. Mas uma casa pode ser bela, se o projeto de um bom arquiteto tiver a estruturá-lo os cálculos de um bom engenheiro e a vigilância de um bom construtor no sentido do bom acabamento, por um bom operário, do trabalho em execução. 

“Troquem-se tijolos por palavras, ponha-se o poeta, subjetivamente, na quádrupla função de arquiteto, engenheiro, construtor e operário, e aí tendes o que é poesia. A comparação pode parecer orgulhosa, do ponto de vista do poeta, mas, muito pelo contrário, ela me parece colocar a poesia em sua real posição diante das outras artes: a de verdadeira humildade. O material do poeta é a vida, e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdido e sublime. Seu instrumento é a palavra. Sua função é a de ser expressão verbal rítmica ao mundo informe de sensações, sentimentos e pressentimentos dos outros com relação a tudo o que existe ou é passível de existência no mundo mágico da imaginação. Seu único dever é fazê-lo da maneira mais bela, simples e comunicativa possível, do contrário ele não será nunca um bom poeta, mas um mero lucubrador de versos.”
[...] 

(MORAES, Vinicius. Sobre poesia. In: _____. Uma mulher chamada guitarra: crônicas escolhidas de Vinicius de Moraes. São Paulo: Boa Companhia, 1. ed., 2013, pp. 68-9.) 

Sugestão de postagem do amigo Adauto Neto 

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