“Vôte!” é uma dessas exclamações tipicamente nordestinas que de vez em
quando os visitantes nos pedem para explicar e não temos a menor ideia
sobre o lugar de onde veio ou sobre o que significa ao pé da letra.
Usamos, e acabou-se.
Tecnicamente, é uma interjeição que exprime assombro, repulsa, susto, perplexidade. "Vôte! Que diabo é isso? Parece um homem vestido de mulher!" Equivale mais ou menos ao "Eu, hein!" muito popular no Rio, e ao "T'esconjuro!" muito usado nas regiões rurais...
Como um dos meus passatempos favoritos é imaginar etimologias possíveis para as palavras, penso às vezes que a origem de “vôte!” deve ser alguma expressão do tipo "Vou te esconjurar..." ou semelhante.
Já cheguei a imaginar que o termo informal “wot” em inglês seria um equivalente ao nosso “vôte”, por ser usado em contextos semelhantes, como exclamação de surpresa. Mas sua pronúncia, no entanto, é “uót” (mais ou menos a mesma da sua forma gramatical, “what”). Não tem como fazer a pronúncia “uót” virar “vôte”; é mera coincidência, certamente.
É palavrório típico do povão, daí os versos de advertência e censura de Laurindo Pereira de Sousa, o poeta popular conhecido como Bernardo Cintura:
É um bom vício amolar
para o sujeito que amola,
é feio pedir esmola
se se pode trabalhar.
É mau vício não pagar,
dizer dito: vôte, oxente,
isso é lá vício de gente,
isso é vício de vadio;
pra quem tem calor ou frio,
de vício só aguardente.
(citado por Cristino Pimentel, em Abrindo o Livro do Passado).
O poeta nivela “vôte” e “oxente”, ditos populares, a ações de mau gosto como não pagar uma dívida; mas se trai no final quando absolve a cachaça, e cá pra nós, perde um pouco de credibilidade pra falar mal do vôte alheio.
Um saboroso livro memorialista é o do pintor popular pernambucano Celestino Gomes, Da Roça a Roma. Chamo-o de pintor popular porque é um autodidata que sempre vendeu seus quadros na rua, mundo afora, e nunca acessou o “Grand Monde” das artes. Em suas memórias ele conta, narrando sua paixão impossível por uma jovem:
“Numa tentativa alucinada de amante, escrevi um bilhete. O texto: ‘Me prepondero com indiferença, amor e cortesia, ser um dos seus eleitos. Se você por acaso aceitar-me, como Julieta aceitou Romeu, escreva-me dizendo sim; jamais diga não a este saudável pretendente’. Ela recebeu o bilhete, dizendo que me daria a resposta em quinze dias. Qual foi a minha surpresa! No mesmo dia ela vem dizer, feito uma jararaca: ‘Não, não e não, de jeito nenhum, vôte condenado’.”
Dizemos “vôte” quando queremos dizer: nem pensar, de jeito nenhum, desaparece daqui, ave Maria que coisa horrorosa.
Tecnicamente, é uma interjeição que exprime assombro, repulsa, susto, perplexidade. "Vôte! Que diabo é isso? Parece um homem vestido de mulher!" Equivale mais ou menos ao "Eu, hein!" muito popular no Rio, e ao "T'esconjuro!" muito usado nas regiões rurais...
Como um dos meus passatempos favoritos é imaginar etimologias possíveis para as palavras, penso às vezes que a origem de “vôte!” deve ser alguma expressão do tipo "Vou te esconjurar..." ou semelhante.
Já cheguei a imaginar que o termo informal “wot” em inglês seria um equivalente ao nosso “vôte”, por ser usado em contextos semelhantes, como exclamação de surpresa. Mas sua pronúncia, no entanto, é “uót” (mais ou menos a mesma da sua forma gramatical, “what”). Não tem como fazer a pronúncia “uót” virar “vôte”; é mera coincidência, certamente.
É palavrório típico do povão, daí os versos de advertência e censura de Laurindo Pereira de Sousa, o poeta popular conhecido como Bernardo Cintura:
É um bom vício amolar
para o sujeito que amola,
é feio pedir esmola
se se pode trabalhar.
É mau vício não pagar,
dizer dito: vôte, oxente,
isso é lá vício de gente,
isso é vício de vadio;
pra quem tem calor ou frio,
de vício só aguardente.
(citado por Cristino Pimentel, em Abrindo o Livro do Passado).
O poeta nivela “vôte” e “oxente”, ditos populares, a ações de mau gosto como não pagar uma dívida; mas se trai no final quando absolve a cachaça, e cá pra nós, perde um pouco de credibilidade pra falar mal do vôte alheio.
Um saboroso livro memorialista é o do pintor popular pernambucano Celestino Gomes, Da Roça a Roma. Chamo-o de pintor popular porque é um autodidata que sempre vendeu seus quadros na rua, mundo afora, e nunca acessou o “Grand Monde” das artes. Em suas memórias ele conta, narrando sua paixão impossível por uma jovem:
“Numa tentativa alucinada de amante, escrevi um bilhete. O texto: ‘Me prepondero com indiferença, amor e cortesia, ser um dos seus eleitos. Se você por acaso aceitar-me, como Julieta aceitou Romeu, escreva-me dizendo sim; jamais diga não a este saudável pretendente’. Ela recebeu o bilhete, dizendo que me daria a resposta em quinze dias. Qual foi a minha surpresa! No mesmo dia ela vem dizer, feito uma jararaca: ‘Não, não e não, de jeito nenhum, vôte condenado’.”
Dizemos “vôte” quando queremos dizer: nem pensar, de jeito nenhum, desaparece daqui, ave Maria que coisa horrorosa.
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
2 comentários:
Sempre relacionei com a expressão: "vai-te".
Amigo, tudo que diga respeito à minha terra, me encanta! Li esses versos quando criança, e nunca mais os esqueci!
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