“Muito do que gastamos (e nos
desgastamos) nesse consumismo feroz podia ser negociado com a gente
mesmo: uma hora de alegria em troca daquele sapato. Uma tarde de amor em
troca da prestação do carro do ano; um fim de semana em família em
lugar daquele trabalho extra que está me matando e ainda por cima
detesto.
Não sei se sou otimista
demais, ou fora da realidade. Mas, à medida que fui gostando mais do meu
jeans, camiseta e mocassins, me agitando menos, querendo ter menos, fui
ficando mais tranqüila e mais divertida. Sapato e roupa simbolizam bem
mais do que isso que são: representam uma escolha de vida, uma postura
interior.
Nunca fui modelo de nada,
graças a Deus. Mas amadurecer me obrigou a fazer muita faxina nos
armários da alma e na bolsa também. Resistir a certas tentações é
burrice; mas fugir de outras pode ser crescimento, e muito mais alegria.
Cada um que examine o baú de suas prioridades, e faça a arrumação que quiser ou puder.
Que
seja para aliviar a vida, o coração e o pensamento – não para inventar
de acumular ali mais alguns compromissos estéreis e mortais.”
Lya Luft no livro Pensar é Transgredir
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