Eu me lembro de quando as maiores ameaças aos meninos de
Campina eram um bandido chamado João Cabeludo e um tarado chamado Barba Rala.
Eu me lembro de uma exposição que teve na antiga FUNDACT,
onde depois foi o Forum da av. Floriano Peixoto, onde eu nunca esqueci uma
coleção encadernada dos livros de Walter Scott (que até hoje ainda não li).
Eu me lembro de quando os ônibus trocaram as senhas de
papel por fichas de plástico, redondas e coloridas, que a gente enfiava numa
urna ao sair.
Eu me lembro de uma brincadeira de mesa de bar que
consistia em mandar o outro procurar a fórmula “dd042” no rótulo da cerveja
Brahma Chopp, e era a palavra “Chopp” de cabeça para baixo.
Eu me lembro da lojinha Zimbo Música, na Cardoso Vieira
(eu morava em frente), e toda vez que botavam um disco de coco de embolada
formava-se uma pequena multidão na calçada para escutar; isso não acontecia nem
com Roberto Carlos.
Eu me lembro de quando botaram uma pipoqueira no saguão
do cinema com um vidro redondo onde a gente via as pipocas pulando; dava a hora
do filme começar e eu ficava com pena de não poder mais assistir as pipocas.
Eu me lembro de uma loja que tinha perto da esquina da
Floriano Peixoto com a Venâncio Neiva chamada “O Palácio das Louças” e eu
quando era menino lia de longe “O Palácio das Loucas” e imaginava uma história
meio Mil e Uma Noites.
Eu me lembro de uma época em que o clima entre Treze e
Campinense andava tão tenso que em cerca de um mês houve uns três episódios de
jogadores que cruzavam uns pelos outros no centro da cidade e acabavam brigando
de murros.
Eu me lembro dos bailes de carnaval em clubes, quando a
orquestra tocava frevo durante horas e quando mudava para samba as pessoas
diziam: “Agora é bom um samba, para descansar”.
Eu me lembro da primeira e talvez única vez em que
passeei de canoa no Açude Velho. Com meus pais, talvez. Entramos, sentamos, a
canoa começou a dar voltas, e depois de algum tempo eu enfiei a mão na água.
Tive um susto, porque como a água do açude era parada eu esperava senti-la
parada, e o que senti foi como uma correnteza muito forte, quase levando embora
o meu braço.
Eu me lembro de uma caneta-tinteiro preta que eu usava e
que tinha sido de meu pai (trazia o nome dele gravado, em pequeninas letras de
imprensa) e um dia eu vinha descendo a Irineu Joffily pela lateral do Cine
Capitólio e veio um cara, esbarrou em mim, e seis passos adiante quando levei a
mão ao bolso da camisa, cadê minha caneta?
Eu me lembro de propagandas de lojas nas rádios: “Vais ou
não vais à Casa Vaz?”, “A Insinuante: a mais moderna! A Moderna: a mais
insinuante!”, “Casas José Araújo, onde quem manda é o freguês”, “Armazéns BBB,
onde tudo é bom, bonito e barato!”.
Eu me lembro das laranjas vendidas na rua, descascadas
com uma maquininha com um torno horizontal onde a laranja ficava presa e o cara
girava uma manivela fazendo a laranja rodar de encontro a uma ponta metálica
que tirava a casca em espiral.
Eu me lembro de Cadete, o fotógrafo do bairro de José
Pinheiro, cuja propaganda dizia: “FOTO CADETE – dez letras a serviço da sua
economia!”.
Eu me lembro do time amador do Fracalanza, que jogava
muitas preliminares de jogos do Treze, e tinha um jogador chamado Lambretinha
que tinha um pique assombroso com a bola nos pés.
Eu me lembro dos abajures com paisagens coloridas que,
quando a lâmpada esquentava, começavam a girar e produziam um efeito parecido
com o de um desenho animado.
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
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