sexta-feira, 2 de maio de 2014

Seio de virgem

O que eu sonho noite e dia,
O que me dá poesia
E me torna a vida bela,
O que num brando roçar
Faz meu peito se agitar,
E' o teu seio, donzela!
 
Oh! quem pintara, o cetim
Desses limões de marfim,
Os leves cerúleos veios,
Na brancura deslumbrante
E o tremido de teus seios!
 
Quando os vejo, de paixão
Sinto pruridos na mão
De os apalpar e conter...
Sorriste do meu desejo?
Loucura! bastava um beijo
Para neles se morrer!
 
Minhas ternuras, donzela,
Votei-as à forma bela
Daqueles frutos de neve...
Aí duas cândidas flores
Que o pressentir dos amores
Faz palpitarem de leve.
 
Mimosos seios, mimosos,
Que dizem voluptuosos:
"Amai-nos, poetas, amai!
"Que misteriosas venturas
"Dormem nessas rosas puras
E se acordarão num ai!"
 
Que lírio, que nívea rosa,
Ou camélia cetinosa
Tem uma brancura assim?
Que flor da terra ou do céu,
Que valha do seio teu
Esse morango ou rubim?
 
Quantos encantos sonhados
Sinto estremecer velados
Por teu cândido vestido!
Sem ver teu seio, donzela,
Suas delícias revela
O poeta embevecido!
 
Donzela, feliz do amante
Que teu seio palpitante
Seio d'esposa fizer!
Que dessa forma tão pura
Fizer com mais formosura
Seio de bela mulher!
 
Feliz de mim... porém não!...
Repouse teu coração
Da pureza no rosal!
Tenho eu no peito uma aroma
Que valha a rosa que assoma
No teu seio virginal?...
 
Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 12 de setembro de 1831- Rio de Janeiro, 25 de abril de 1852) - Além de poeta, foi contista, ensaísta e dramaturgo. Ligado à segunda geração do romantismo, é patrono da cadeira nº 2 da Academia Brasileira de Letras.

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