sábado, 24 de maio de 2014

Diversidade à prova

É de se esperar que uma cidade liberal em que se pode casar com quem quiser, independentemente do gênero, não tenha lá problemas com diversidade. Pois quando se analisam dados das cinco principais raças ou etnias (branco, negro, asiático, hispânico, “todas as outras”), Seattle fica num pífio 39º lugar entre as 50 cidades mais populosas dos Estados Unidos, de acordo com um novo índice de diversidade.
 
O índice mede a chance de duas pessoas escolhidas aleatoriamente em um lugar qualquer serem de uma mesma raça ou etnia. Em Seattle, essa chance é de 54%, abaixo da média nacional de 56% – em Nova Iorque, a chance sobe para 74%; em Chicago, para 71%.
 
Qual a importância disso? O que importa que a influência escandinava de Seattle tenha deixado a população mais “branca” que outras cidades de médio e grande porte do país? O que importa que o rápido crescimento de Seattle – 18 mil novos residentes em um ano – não esteja alterando significativamente a diversidade da cidade?
 
Diversidade é assunto complexo por estas bandas. Os Estados Unidos são uma mistura de raças e imigrantes, como é o Brasil, e isso é levado em conta nas políticas públicas e corporativas. Há uma preocupação em prover oportunidades semelhantes a todas as raças e etnias; estimular o senso de responsabilidade sobre a participação de cada uma delas; fazer com que todos se sintam “incluídos”. Todos talvez com exceção dos brancos – duvido que uma iniciativa de ampliação da participação branca no que quer que seja tivesse aceitação da opinião pública. A culpa histórica é muito palpável.
 
Como uma típica brasileira, de ascendência tão diversa que se diluiu ao longo das gerações, é difícil marcar um “x” num formulário com segurança quando o tópico é raça. Não sou asiática, não me considero branca, mas “hispânico” me parece impreciso porque sei que estão se referindo à América Latina espanhola, não necessariamente ao Brasil. Minha hesitação sempre rende conversas prolongadas sobre a formação do estado brasileiro.
 
O debate é importante porque a diversidade significa, no mínimo, refletir localmente (em uma cidade, em um escritório, em uma associação) o que a sociedade é nacionalmente, com todos os seus conflitos e desafios. Seattle, pelo visto, ainda está longe neste quesito em relação à maioria das outras cidades americanas.
 
Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview.

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