quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Por que somos corruptos?


A máxima “o poder corrompe” é a bandeira que cobre o caixão no qual velamos a política. Ela é primeiro desfraldada por aqueles que pretendem evitar a partilha do poder que constitui a democracia. Ela é aceita por todos aqueles que se deixam levar pela noção de que o poder não presta e, deste modo, doam o poder a outros como se dele não fizessem parte. Esquecem-se que a falta de poder também corrompe, mas esquecem sobretudo de refletir sobre o que é o poder, ou seja, ação conjunta.

Democracia é partilha do poder. É o campo da vida comum, a vida onde todos estamos juntos como numa mesma embarcação em mar aberto. Partilhamos o poder querendo ou não, mas podemos fazê-lo de modo submisso ou democrático, omisso ou presente. Estamos dentro da democracia e precisamos seguir suas conseqüências.

Democracia é também responsabilização pelo contexto em que vivemos: pelo resultado das eleições, pela miséria, pelo cenário inteiro que produzimos por ação ou omissão. Mas não nos detivemos em escala social para entender o que a democracia é e, por isso, falta-nos a reflexão que é capaz de orientar o seu sentido, bem como o sentido do poder e da política.

Acreditamos que o poder é mau. Que a política é ação para espíritos corruptíveis. Construímos a noção de que política não combina com ética, com moral, com princípios. Quem acredita nisso já contribui para a manutenção do estado geral da política, pois afirmamos uma essência em lugar errado. Onde deveria estar a ação que constitui a política, está a crença que determina o preconceito e a inação. Neste sentido, a compreensão disseminada no senso comum, já é corrupta. Ela compactua com a corrupção ao reafirmá-la no discurso que sempre orienta a prática.

É nosso dever hoje reavaliar a experiência brasileira diante da política. A compreensão da política como campo da profissão, por definição, corrupta, é ela mesma corrompida e corrupta. Ela destrói a política, cujo significado, precisamos hoje, refazer.

Esta é a ação política mais urgente.

Acostumamo-nos ao pré-conceito de que política é apenas governabilidade e deixamos de lado a idéia fundamental de que a política é projeto de sociedade da qual participam todos os cidadãos. Reclusos em nossas casas, acreditamos que a esfera da vida privada está imune ao político. Esquecemos que o pessoal é também político, não como espetáculo, mas como lugar de relação e modelo da esfera macroscópica da sociedade. Políticos somos porque falamos e estamos com os outros. Política é relação “entre-nós” produzida pela linguagem, pela nossa fala, por nossos discursos. O que dizemos é sempre político. Pois falar é o primeiro passo do fazer ou, mesmo, a primeira de nossas ações.

Política é a relação estabelecida no enlace inevitável entre indivíduos e sociedade. Na omissão praticamos a anti-política. Toda anti-política que seja omissão e não crítica é corrupção da política por ser corrupção da ação. A mais urgente das ações políticas na atualidade, além da punição dos que transformaram nossa governabilidade em prostituição da ação, é refazermo-nos como políticos no verdadeiro sentido.


Marcia Tiburi

* Artigo publicado em Zero Hora de 30 de abril de 2006. Coluna Tema para Debate.

Um comentário:

Jairo Alves disse...

Acho que será fácil responder a essa pergunta.
Será fácil entender que esse pequeno texto:"Por que somos corruptos?", é mais uma história lida como as mais belas mensagens!...
E elas não sabem ser outra coisa mais interessante. Só de ser, apenas mensagem.
Será também mais fácil entendermos sim o que será Política, no sentido ético. Democracia, no sentido igualitário; espaço livre e aberto a sociedade, também é fácil ler em algum jornal, em qualquer livro, que a democracia e a política são os melhores meios de governar e de se intergir entre a sociedade.

Mas o que difucuta entendermos isso? Isso está em nós mesmos!
Nós somos quem decidirmos estarmos da maneira como escolhermos!
Nós somos quem pomos politicos ladrões em nosso pais pra nos governar!
Nós quem damos a voz de comando, e eles, com a maior ousadia, faz da gente o que bem quer. O povo gosta, o povo ama. Simplesmente o povo ama isso. Esse jeito brasileiro de ser e de aguentar ser submisso a práticas enganosas, corruptas!...
O próprio texto, pra mim diz muito bem o que é claro, politica.
E diz ainda o retrato da imagem enfraquecida que temos...

E sabem quanto ganha um deputado, pra está lá fazendo papel de sacanagem no Senado?
É determinado que seja 25 mil.
Mas sabem quanto eles chegam a ganharem, quando somam todas os auxílios, que são inúmeros? Chega a 80 mil reias, pra cada um. Começa ai o grande erro. E daí, brasileiros, desse Brasil acomodado, ninguém não imagina o que ocorre no resto do território político!...