Estava ela parada na minha frente. Olhava-me como quisesse tirar de mim suas próprias respostas.
Eu a fitava, mas não conseguia lhe perguntar nada.
Nem uma palavra.
Nem um sussurro sequer.
Mas as palavras estavam todas lá naquele espaço do quarto, aguardando o tempo oportuno.
Tempo que congelou naquela cena, assim como todos as palavras reduzidas a interpretação do seu rosto.
Ela olhava. Eu a olhava.
Alguém tinha que dizer algo, mas o que?
Seu rosto já dizia tudo.
Ela estava lá. Cabelo despenteado, olhos lacrimejados e cheios de olheiras.
Talvez tivesse passado pela noite e talvez por todos os dias, tentando construir um texto ajeitado que completasse o sentido daquela cena.
E se alguém de repente encontrasse o seu texto e o lesse em voz alta, tão alta que ela mesma escutasse. Talvez assim fizesse mais sentido. Talvez esse alguém apontasse uma nova direção não contrária ao que ela teimava em concertar.
Talvez esse alguém chamasse outras pessoas para desvendar o enigma. E desse para ela uma reposta que construíssem outras tantas. Mais uma resposta tão pronta que a vida teria outra completude.
Talvez esta resposta pronta tivesse uma casa nova, com personagens atuantes e falantes, e soubessem de cor suas falas.
E também soubessem só num olhar o que ela queria dizer sempre que saísse aquela piscadela desajeitada.
Pronto a vida seria outra.
Tão mais simples e fácil.
Seria a vida em que todos entenderiam. E haveria poucas perguntas.
Ninguém perguntaria: o que é isto que eu estou lendo?
O que isto significa?
E agora?
Então, uma vida simples e fácil sem perguntas.
Já teriam parado as perguntas no primeiro parágrafo, e pronto, assunto encerrado!
Mas não sou assim. Teimei e continuei a ler no rosto dela. Continuei a fazer perguntas. E quanto mais fazia menos respostas tinha por que, simplesmente, perguntava com meu repertório ensaiado, transmutado daquele livro de psicologia. Da bula do alquimista.
Seria tão fácil se ela falasse por meio de palavras significativas, ajustadas, estruturadas e desenhada no bom português. Eu não trairia as significações pela interpretação apressada, apreendida dos recortes das falas dos meus outros personagens.
Chega! Diga-me agora, o que isto significa!
Sai da paralisia. Aquela situação era angustiante. Tudo no ar menos a palavra que daria desfecho.
Ela olha novamente. Dá uma longa respirada. Baixa o olhar. Enxuga o rosto. Amarra o cabelo com uma fita verde e diz: Vá dormir meu amor.
Em seguida, com um leve sorriso nos lábios e uma voz ajustadamente doce entornou aquela palavra esperada: Eu estou bem!
De pronto respondi com outro sorriso, ao que perguntei: Está bem mesmo?
Meu bem tudo vai passar. Vá dormir, amanhã será um novo dia. Disse ela.
E desde aquele dia, quando de repente fico com mais perguntas que respostas. Quando o texto parece confuso e fora de contexto. Vem a lembrança daquele leve sorriso, acompanhado daquelas palavras, retirado em meio a tanta dor:
- Eu estou bem.
- Tudo vai passar.
- Amanhã será um novo dia...
Marcia Cristini
Professora e Técnica Judiciária
Eu a fitava, mas não conseguia lhe perguntar nada.
Nem uma palavra.
Nem um sussurro sequer.
Mas as palavras estavam todas lá naquele espaço do quarto, aguardando o tempo oportuno.
Tempo que congelou naquela cena, assim como todos as palavras reduzidas a interpretação do seu rosto.
Ela olhava. Eu a olhava.
Alguém tinha que dizer algo, mas o que?
Seu rosto já dizia tudo.
Ela estava lá. Cabelo despenteado, olhos lacrimejados e cheios de olheiras.
Talvez tivesse passado pela noite e talvez por todos os dias, tentando construir um texto ajeitado que completasse o sentido daquela cena.
E se alguém de repente encontrasse o seu texto e o lesse em voz alta, tão alta que ela mesma escutasse. Talvez assim fizesse mais sentido. Talvez esse alguém apontasse uma nova direção não contrária ao que ela teimava em concertar.
Talvez esse alguém chamasse outras pessoas para desvendar o enigma. E desse para ela uma reposta que construíssem outras tantas. Mais uma resposta tão pronta que a vida teria outra completude.
Talvez esta resposta pronta tivesse uma casa nova, com personagens atuantes e falantes, e soubessem de cor suas falas.
E também soubessem só num olhar o que ela queria dizer sempre que saísse aquela piscadela desajeitada.
Pronto a vida seria outra.
Tão mais simples e fácil.
Seria a vida em que todos entenderiam. E haveria poucas perguntas.
Ninguém perguntaria: o que é isto que eu estou lendo?
O que isto significa?
E agora?
Então, uma vida simples e fácil sem perguntas.
Já teriam parado as perguntas no primeiro parágrafo, e pronto, assunto encerrado!
Mas não sou assim. Teimei e continuei a ler no rosto dela. Continuei a fazer perguntas. E quanto mais fazia menos respostas tinha por que, simplesmente, perguntava com meu repertório ensaiado, transmutado daquele livro de psicologia. Da bula do alquimista.
Seria tão fácil se ela falasse por meio de palavras significativas, ajustadas, estruturadas e desenhada no bom português. Eu não trairia as significações pela interpretação apressada, apreendida dos recortes das falas dos meus outros personagens.
Chega! Diga-me agora, o que isto significa!
Sai da paralisia. Aquela situação era angustiante. Tudo no ar menos a palavra que daria desfecho.
Ela olha novamente. Dá uma longa respirada. Baixa o olhar. Enxuga o rosto. Amarra o cabelo com uma fita verde e diz: Vá dormir meu amor.
Em seguida, com um leve sorriso nos lábios e uma voz ajustadamente doce entornou aquela palavra esperada: Eu estou bem!
De pronto respondi com outro sorriso, ao que perguntei: Está bem mesmo?
Meu bem tudo vai passar. Vá dormir, amanhã será um novo dia. Disse ela.
E desde aquele dia, quando de repente fico com mais perguntas que respostas. Quando o texto parece confuso e fora de contexto. Vem a lembrança daquele leve sorriso, acompanhado daquelas palavras, retirado em meio a tanta dor:
- Eu estou bem.
- Tudo vai passar.
- Amanhã será um novo dia...
Marcia Cristini
Professora e Técnica Judiciária
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