sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Pessoas também ouvem com a pele, diz estudo

Nós ouvimos com os ouvidos, certo? Certo, mas cientistas sabem há anos que também ouvimos com os olhos. Em um importante estudo publicado em 1976, pesquisadores descobriram que as pessoas integram sinais auditivos e visuais, como movimentos da boca e do rosto, quando ouvem uma fala.

Esse estudo, e muitos que se seguiram, levantou essa questão fundamental sobre a percepção da fala: se os humanos podem integrar diferentes sinais sensoriais, eles o fazem por causa da experiência (por verem inúmeros rostos falando com o tempo), ou a evolução os configurou dessa forma?

Um novo estudo que observa um conjunto diferente de sinais sensoriais contribui com um grupo crescente de evidências que sugerem que essa integração é inata. Em artigo publicado na Nature, Bryan Gick e Donald Derrick, da University of British Columbia, relatam que as pessoas podem ouvir com a pele.

Os pesquisadores fizeram com que os participantes ouvissem sílabas enquanto eram atrelados a um dispositivo que, de forma simultânea, fazia um pequeno sopro de ar na pele da mão ou do pescoço. As sílabas incluíam "pa" e "ta", que produzem um leve sopro da boca quando faladas, e "da" e "ba", que não produzem sopros. Eles descobriram que, quando os ouvintes ouviam "da" ou "ba" enquanto um soprinho de ar atingia sua pele, eles percebiam o som como "ta" ou "pa".

Gick afirmou que as descobertas eram similares àquelas do estudo de 1976, no qual sinais visuais venciam sinais auditivos – os participantes ouviam a uma sílaba, mas entendiam outra, porque estavam assistindo a um vídeo de movimentos da boca correspondendo à segunda sílaba. Em seu estudo, disse Gick, sinais de receptores sensoriais na pele também venceram os ouvidos. "Nossa pele faz a audição por nós", disse ele.

Gick observou que seria raro que alguém realmente sentisse um sopro de ar produzido por outra pessoa, embora as pessoas possam ocasionalmente sentir seus próprios sopros. De qualquer forma, disse ele, o estímulo foi muito sutil, "o que sugere que é muito poderoso".

"O que é tão persuasivo em relação a este efeito particular", acrescentou, "é que as pessoas estão pegando essa informação que eles não sabem que estão usando". Isso respalda a ideia de que a integração de diferentes sinais sensoriais é inata.

Gick afirmou que a descoberta também sugeria que outros sinais sensoriais possam funcionar na percepção da fala – que, como colocou ele, "nós somos essas fantásticas máquinas de percepção capazes de absorver todas as informações disponíveis e as integramos perfeitamente".


Fonte:
Henry Fountain
New York Times News Service
Gabriela d'Avila

do UOL Ciência

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