Conforme os estudos de Donald W. Winnicott (*), a agressividade é vista em suas raízes como sendo algo da ordem do inato, coexistentes com o amor, constituindo uma das fontes de energia de um indivíduo, além de significar direta ou indiretamente uma reação à frustração. “Amor e o ódio constituem os dois principais elementos a partir dos quais se constroem as relações humanas. Mas amor e ódio envolvem agressividade” (1999, p. 93). Segundo o autor, todo ser humano guarda em sua essência esse paradoxo entre o amor e o ódio, e isso é próprio da natureza humana. Por isso, ele parte do pressuposto que o bem e o mal andam juntos no mundo das relações humanas, e que já no bebê, coexistem amor e ódio em plena intensidade humana.
Também Freud (1929/1996) afirmava que os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas, e que, na pior das hipóteses, podem defender-se quando atacados. São, ao contrário, criaturas cujos dons instintivos incluem uma grande parcela de agressividade. Winnicott (1999) afirma que “de todas as tendências humanas, a agressividade, em especial, é escondida, disfarçada, desviada, atribuída a agentes externos, e quando se manifesta é sempre uma tarefa difícil identificar suas origens”. (p. 94).
Percebe-se que a manifestação da agressividade, principalmente na criança, é sempre vista com espanto e estranheza. Observando relatos de pais aflitos no consultório, denota-se o mal-estar desses sujeitos diante da agressividade dos filhos. O sentimento de impotência que os invade, mostra a dificuldade em lidar com a sua própria agressividade. É como se a tendência agressiva fosse estranha à sua natureza, como se não fizesse parte, também, da sua constituição. E a demanda é sempre a mesma – livrar-se desse “problema”.
Winnicott diz que “ser capaz de tolerar tudo o que podemos encontrar em nossa realidade interior é uma das grandes dificuldades humanas, e um dos importantes objetivos humanos consiste em estabelecer relações harmoniosas entre as realidades pessoais internas e as realidades exteriores” (Idem, p. 98). A fala do autor aponta para uma realidade dolorosa que todo pai e mãe deve enfrentar um dia – seus próprios “fantasmas” internos, sua própria agressividade que não foi muito bem elaborada numa infância remota. Resquícios, muitas vezes, de uma educação rígida, intolerante, repressora, que não possibilitou à criança aprender a lidar com seus impulsos agressivos, destrutivos; possivelmente, não teve pais fortes e seguros o suficiente para suportar suas manifestações de agressividade.
Por não saberem como conter as crianças, a maioria dos pais reprime as manifestações agressivas dos filhos, sem saber que “a energia instintiva reprimida constitui um perigo potencial para o indivíduo e para a comunidade (...)” (WINNICOTT, 1999, p. 94). Perigo para si mesmo quando essa energia pulsional de agressividade se volta contra o próprio sujeito numa forma de auto-agressão ou autodestruição, como acontece na depressão, por exemplo; e perigo para a comunidade quando esse impulso agressivo se torna uma ameaça para os outros, atingindo-os física e moralmente.
“Às vezes, a agressão se manifesta plenamente e se consome, ou precisa de alguém para enfrentá-la e fazer algo que impeça os danos que ela poderia causar. Outras vezes os impulsos agressivos não se manifestam abertamente, mas aparecem sob a forma de algum tipo oposto”. (Idem, p. 103). O autor frisa que, apesar dos fatores hereditários que distingue os indivíduos uns dos outros, há certas características que são inerentes ao desenvolvimento da personalidade humana, e que se encontram tanto nas crianças, quanto nos adultos. Alguns indivíduos demonstram mais e outros dificilmente revelam os sintomas de sua agressividade, assim apenas o que se modifica é a maneira de expressar e de lidar com os impulsos agressivos.
Quando se coloca a questão dos opostos da agressão, refere-se a atitudes distintas diante de um mesmo problema, assim têm-se alguns contrastes, como por exemplo, o contraste entre a criança tímida e a ousada, entre a criança que expõe facilmente sua agressividade e a que a retém dentro de si mesma. Entende-se que, no primeiro caso, a atitude de ousadia em manifestar abertamente a agressão e a hostilidade, permite à criança obter um alívio e sentir-se bem, pois descobre que a manifestação dos seus impulsos agressivos é limitada e consumível.
Ao contrário, aquela criança que reteve sua hostilidade tende a encontrar essa agressividade não no eu, mas em outro lugar, ficando apreensiva e temerosa, na expectativa de que aquele impulso se volte para ela própria, a partir do mundo externo. Assim, a mesma jamais chegará a uma satisfação, mas permanecerá sempre à espera de alguma dificuldade, tornando-se tensa e ansiosa.
Ao acompanhar o desenvolvimento de uma criança verifica-se que os impulsos agressivos já aparecem desde cedo, nas mais primitivas ações do bebê de morder, bater, espernear, gritar, etc. A criança agride, fere, destrói, rouba, etc., como uma forma de expressar o que se passa no seu interior; assim, a agressão manifesta-se, também, como uma forma de linguagem. Como a criança ainda não consegue “falar” do que sente, ela age agressivamente por se sentir incapaz de expressar de outro modo o que está se passando em seu mundo interno. Muitas vezes a agressão também pode ser sinal de uma grande excitação, já que a criança não sabe o que fazer com sua excitação, ela agride. O sentimento de desamparo também pode levar a uma reação de violência, ou seja, a uma manifestação agressiva destrutiva.
Percebe-se que a agressividade pode se apresentar de diversas formas no cotidiano da vida de uma criança em desenvolvimento. A agressividade é uma força que pode ser usada de forma construtiva ou destrutiva, ela impulsiona a pessoa à ação. Entende-se que a violência seja a manifestação da agressão de forma destrutiva. Tanto a destruição quanto a construção são aspectos pertinentes no processo de amadurecimento da criança. Winnicott (1999) destaca que o impulso construtivo relaciona-se à aceitação pessoal por parte da criança, num ambiente favorável, da responsabilidade pelo aspecto destrutivo da sua natureza. O aparecimento e a manutenção do brincar construtivo, na criança, constitui um sinal de saúde, sendo resultado da totalidade das suas experiências de vida, proporcionadas pelos pais ou seus substitutos.
Um exemplo disso é quando a criança quer ajudar de qualquer modo à mãe a cuidar do seu irmãozinho ainda bebê; se a mãe não lhe dá uma oportunidade de fazer alguma coisa útil por ela, de demonstrar seu amor ajudando-a, essa criança poderá sentir-se impotente e inútil; assim, poderá reagir com uma atitude de agressão e destrutividade, ou seja, ela se torna violenta. O sonhar e o brincar são meios eficazes de simbolização que ajudam à criança expressar sua agressividade de forma mais madura. A brincadeira da criança aproxima-se da fantasia e daquilo que poderia ser sonhado, do material inconsciente, porque constitui uma grande possibilidade de simbolização. Essa capacidade de simbolização é importantíssima no processo de desenvolvimento infantil. Quando a criança aceita os símbolos, ela terá condições de desenvolver-se de forma mais saudável, conseqüentemente, sentirá alívio em relação aos conflitos pertinentes à verdade pura. O conflito entre o amor e o ódio que se instala no interior da criança, é embaraçoso e gera sofrimento à mesma. Assim sendo, quando a aceitação de símbolos se inicia cedo, haverá mais condições da criança enfrentar essas experiências conflituosas de forma sadia.
Os indivíduos devem guardar dentro de si certa dose de agressividade que os impulsionará a lutar por seus objetivos na vida. A criança deve aprender a conviver com essas realidades antagônicas em seu interior que, de certa forma, se complementam, que é o amor e o ódio. Winnicott frisa que, ao cuidar de crianças, observa-se que elas tendem a amar aquilo que machucam, e isso faz parte de sua vida. A partir disso ele coloca uma questão instigante – “de que maneira seu filho encontrará uma forma de aproveitar essas forças agressivas para a tarefa de viver, amar, brincar e (finalmente) trabalhar?” (WINNICOTT, 1999, p.108). É importantíssimo o papel dos pais, principalmente o da mãe, na facilitação do processo de maturação e de desenvolvimento de cada criança. Somente quando a criança adquire uma consciência de si e do outro, ela passa a agredir como reação a algum tipo de frustração, medo, raiva, etc.
Ao se investigar a origem da agressão, passa-se naturalmente pelas fases de desenvolvimento infantil, e não se pode negligenciar que a criança vive num mundo “mágico”, aonde tudo pode ser aniquilado num piscar de olhos e depois recriado conforme a necessidade o exija. Durante o seu desenvolvimento, a criança deve passar da destruição mágica para a agressão concreta, e a mãe deve ter sensibilidade para ajudá-la nesse processo de reconhecer a existência de um mundo que está fora do seu controle mágico. Há um tempo de maturação que é preciso se respeitar na vida da criança, quando ela se tornará capaz de aceitar que não pode aniquilar o mundo de forma mágica, mas que pode ser capaz de destruir, de odiar, de agredir e gritar de forma concreta e real.
Esse processo é positivo para a criança e é essencial a participação efetiva e afetiva dos pais neste momento, quando a criança abandona o controle e a destruição mágica e passa a desfrutar da agressão e todas as suas gratificações. A pertinência do apoio parental adequado nessa fase da vida permite à criança alcançar a saúde psíquica. Suportar tudo o que se encontra em nossa realidade interna é uma das grandes dificuldades do homem. Mas é função parental ajudar à criança suportar essa força pulsional intensa que a assusta, quando a mesma lhe causa uma sensação de aniquilamento. Neste momento, a segurança de uma mãe e de um ambiente suficientemente bons, como diz o autor, é imprescindível; já que o comportamento anti-social em crianças deve-se tanto a uma reação à perda de pessoas amadas, quanto à perda de segurança. Por isso ele insiste que o mundo interno da criança precisa ser levado em conta, não se pode negligenciá-lo.
Quando a agressão é guiada pelo medo, e a dramatização da realidade interior for insuportável para a criança, essa agressão tende a buscar o controle, forçando-o a funcionar. O adulto é quem deve barrar tal agressão, para que a mesma não fuja ao controle. Assim, tendo alguém mais forte e seguro que lhe dê suporte, a criança terá condições de dramatizar e usufruir um certo grau de “maldade”, sem se prejudicar.
"É tarefa de pais e professores cuidar para que as crianças nunca se vejam diante de uma autoridade tão fraca a ponto de ficarem livres de qualquer controle ou, por medo, assumirem elas próprias a autoridade. A assunção de autoridade provocada por ansiedade significa ditadura, e aqueles que tiveram a experiência de deixar as crianças controlarem seus próprios destinos sabem que o adulto tranqüilo é menos cruel, enquanto autoridade, do que uma criança poderá se tornar se for sobrecarregada com responsabilidades." (WINNICOTT, 1999, p.101).
Também Freud (1929/1996) afirmava que os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas, e que, na pior das hipóteses, podem defender-se quando atacados. São, ao contrário, criaturas cujos dons instintivos incluem uma grande parcela de agressividade. Winnicott (1999) afirma que “de todas as tendências humanas, a agressividade, em especial, é escondida, disfarçada, desviada, atribuída a agentes externos, e quando se manifesta é sempre uma tarefa difícil identificar suas origens”. (p. 94).
Percebe-se que a manifestação da agressividade, principalmente na criança, é sempre vista com espanto e estranheza. Observando relatos de pais aflitos no consultório, denota-se o mal-estar desses sujeitos diante da agressividade dos filhos. O sentimento de impotência que os invade, mostra a dificuldade em lidar com a sua própria agressividade. É como se a tendência agressiva fosse estranha à sua natureza, como se não fizesse parte, também, da sua constituição. E a demanda é sempre a mesma – livrar-se desse “problema”.
Winnicott diz que “ser capaz de tolerar tudo o que podemos encontrar em nossa realidade interior é uma das grandes dificuldades humanas, e um dos importantes objetivos humanos consiste em estabelecer relações harmoniosas entre as realidades pessoais internas e as realidades exteriores” (Idem, p. 98). A fala do autor aponta para uma realidade dolorosa que todo pai e mãe deve enfrentar um dia – seus próprios “fantasmas” internos, sua própria agressividade que não foi muito bem elaborada numa infância remota. Resquícios, muitas vezes, de uma educação rígida, intolerante, repressora, que não possibilitou à criança aprender a lidar com seus impulsos agressivos, destrutivos; possivelmente, não teve pais fortes e seguros o suficiente para suportar suas manifestações de agressividade.
Por não saberem como conter as crianças, a maioria dos pais reprime as manifestações agressivas dos filhos, sem saber que “a energia instintiva reprimida constitui um perigo potencial para o indivíduo e para a comunidade (...)” (WINNICOTT, 1999, p. 94). Perigo para si mesmo quando essa energia pulsional de agressividade se volta contra o próprio sujeito numa forma de auto-agressão ou autodestruição, como acontece na depressão, por exemplo; e perigo para a comunidade quando esse impulso agressivo se torna uma ameaça para os outros, atingindo-os física e moralmente.
“Às vezes, a agressão se manifesta plenamente e se consome, ou precisa de alguém para enfrentá-la e fazer algo que impeça os danos que ela poderia causar. Outras vezes os impulsos agressivos não se manifestam abertamente, mas aparecem sob a forma de algum tipo oposto”. (Idem, p. 103). O autor frisa que, apesar dos fatores hereditários que distingue os indivíduos uns dos outros, há certas características que são inerentes ao desenvolvimento da personalidade humana, e que se encontram tanto nas crianças, quanto nos adultos. Alguns indivíduos demonstram mais e outros dificilmente revelam os sintomas de sua agressividade, assim apenas o que se modifica é a maneira de expressar e de lidar com os impulsos agressivos.
Quando se coloca a questão dos opostos da agressão, refere-se a atitudes distintas diante de um mesmo problema, assim têm-se alguns contrastes, como por exemplo, o contraste entre a criança tímida e a ousada, entre a criança que expõe facilmente sua agressividade e a que a retém dentro de si mesma. Entende-se que, no primeiro caso, a atitude de ousadia em manifestar abertamente a agressão e a hostilidade, permite à criança obter um alívio e sentir-se bem, pois descobre que a manifestação dos seus impulsos agressivos é limitada e consumível.
Ao contrário, aquela criança que reteve sua hostilidade tende a encontrar essa agressividade não no eu, mas em outro lugar, ficando apreensiva e temerosa, na expectativa de que aquele impulso se volte para ela própria, a partir do mundo externo. Assim, a mesma jamais chegará a uma satisfação, mas permanecerá sempre à espera de alguma dificuldade, tornando-se tensa e ansiosa.
Ao acompanhar o desenvolvimento de uma criança verifica-se que os impulsos agressivos já aparecem desde cedo, nas mais primitivas ações do bebê de morder, bater, espernear, gritar, etc. A criança agride, fere, destrói, rouba, etc., como uma forma de expressar o que se passa no seu interior; assim, a agressão manifesta-se, também, como uma forma de linguagem. Como a criança ainda não consegue “falar” do que sente, ela age agressivamente por se sentir incapaz de expressar de outro modo o que está se passando em seu mundo interno. Muitas vezes a agressão também pode ser sinal de uma grande excitação, já que a criança não sabe o que fazer com sua excitação, ela agride. O sentimento de desamparo também pode levar a uma reação de violência, ou seja, a uma manifestação agressiva destrutiva.
Percebe-se que a agressividade pode se apresentar de diversas formas no cotidiano da vida de uma criança em desenvolvimento. A agressividade é uma força que pode ser usada de forma construtiva ou destrutiva, ela impulsiona a pessoa à ação. Entende-se que a violência seja a manifestação da agressão de forma destrutiva. Tanto a destruição quanto a construção são aspectos pertinentes no processo de amadurecimento da criança. Winnicott (1999) destaca que o impulso construtivo relaciona-se à aceitação pessoal por parte da criança, num ambiente favorável, da responsabilidade pelo aspecto destrutivo da sua natureza. O aparecimento e a manutenção do brincar construtivo, na criança, constitui um sinal de saúde, sendo resultado da totalidade das suas experiências de vida, proporcionadas pelos pais ou seus substitutos.
Um exemplo disso é quando a criança quer ajudar de qualquer modo à mãe a cuidar do seu irmãozinho ainda bebê; se a mãe não lhe dá uma oportunidade de fazer alguma coisa útil por ela, de demonstrar seu amor ajudando-a, essa criança poderá sentir-se impotente e inútil; assim, poderá reagir com uma atitude de agressão e destrutividade, ou seja, ela se torna violenta. O sonhar e o brincar são meios eficazes de simbolização que ajudam à criança expressar sua agressividade de forma mais madura. A brincadeira da criança aproxima-se da fantasia e daquilo que poderia ser sonhado, do material inconsciente, porque constitui uma grande possibilidade de simbolização. Essa capacidade de simbolização é importantíssima no processo de desenvolvimento infantil. Quando a criança aceita os símbolos, ela terá condições de desenvolver-se de forma mais saudável, conseqüentemente, sentirá alívio em relação aos conflitos pertinentes à verdade pura. O conflito entre o amor e o ódio que se instala no interior da criança, é embaraçoso e gera sofrimento à mesma. Assim sendo, quando a aceitação de símbolos se inicia cedo, haverá mais condições da criança enfrentar essas experiências conflituosas de forma sadia.
Os indivíduos devem guardar dentro de si certa dose de agressividade que os impulsionará a lutar por seus objetivos na vida. A criança deve aprender a conviver com essas realidades antagônicas em seu interior que, de certa forma, se complementam, que é o amor e o ódio. Winnicott frisa que, ao cuidar de crianças, observa-se que elas tendem a amar aquilo que machucam, e isso faz parte de sua vida. A partir disso ele coloca uma questão instigante – “de que maneira seu filho encontrará uma forma de aproveitar essas forças agressivas para a tarefa de viver, amar, brincar e (finalmente) trabalhar?” (WINNICOTT, 1999, p.108). É importantíssimo o papel dos pais, principalmente o da mãe, na facilitação do processo de maturação e de desenvolvimento de cada criança. Somente quando a criança adquire uma consciência de si e do outro, ela passa a agredir como reação a algum tipo de frustração, medo, raiva, etc.
Ao se investigar a origem da agressão, passa-se naturalmente pelas fases de desenvolvimento infantil, e não se pode negligenciar que a criança vive num mundo “mágico”, aonde tudo pode ser aniquilado num piscar de olhos e depois recriado conforme a necessidade o exija. Durante o seu desenvolvimento, a criança deve passar da destruição mágica para a agressão concreta, e a mãe deve ter sensibilidade para ajudá-la nesse processo de reconhecer a existência de um mundo que está fora do seu controle mágico. Há um tempo de maturação que é preciso se respeitar na vida da criança, quando ela se tornará capaz de aceitar que não pode aniquilar o mundo de forma mágica, mas que pode ser capaz de destruir, de odiar, de agredir e gritar de forma concreta e real.
Esse processo é positivo para a criança e é essencial a participação efetiva e afetiva dos pais neste momento, quando a criança abandona o controle e a destruição mágica e passa a desfrutar da agressão e todas as suas gratificações. A pertinência do apoio parental adequado nessa fase da vida permite à criança alcançar a saúde psíquica. Suportar tudo o que se encontra em nossa realidade interna é uma das grandes dificuldades do homem. Mas é função parental ajudar à criança suportar essa força pulsional intensa que a assusta, quando a mesma lhe causa uma sensação de aniquilamento. Neste momento, a segurança de uma mãe e de um ambiente suficientemente bons, como diz o autor, é imprescindível; já que o comportamento anti-social em crianças deve-se tanto a uma reação à perda de pessoas amadas, quanto à perda de segurança. Por isso ele insiste que o mundo interno da criança precisa ser levado em conta, não se pode negligenciá-lo.
Quando a agressão é guiada pelo medo, e a dramatização da realidade interior for insuportável para a criança, essa agressão tende a buscar o controle, forçando-o a funcionar. O adulto é quem deve barrar tal agressão, para que a mesma não fuja ao controle. Assim, tendo alguém mais forte e seguro que lhe dê suporte, a criança terá condições de dramatizar e usufruir um certo grau de “maldade”, sem se prejudicar.
"É tarefa de pais e professores cuidar para que as crianças nunca se vejam diante de uma autoridade tão fraca a ponto de ficarem livres de qualquer controle ou, por medo, assumirem elas próprias a autoridade. A assunção de autoridade provocada por ansiedade significa ditadura, e aqueles que tiveram a experiência de deixar as crianças controlarem seus próprios destinos sabem que o adulto tranqüilo é menos cruel, enquanto autoridade, do que uma criança poderá se tornar se for sobrecarregada com responsabilidades." (WINNICOTT, 1999, p.101).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. In: Freud, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1929/1996, v. XXI.
WINNICOTT, Donald W. Privação e delinqüência. 3a. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
(*) Donald W. Winnicott – Foi médico e grande psicanalista inglês. Sua vasta obra sobre a psicanálise da criança contempla conceitos importantes acerca do desenvolvimento psíquico infantil; foi um grande estudioso sobre a agressividade e a tendência anti-social.
Lany Leilah S. Dantas
Psicóloga, Especialista em Psicologia Clínica – Psicanálise,
membro da equipe de profissionais do EPSI –
Espaço Psicanalítico – Estudos, Clínica e Consultoria
João Pessoa – PB. E-mail: lanyleilah@hotmail.com
2 comentários:
Bem me quer...mal me quer,,,o ser humano é assim...não é só os fatores externos que explicam a agressividade. Essas caracteristicas são genéticas,,,são instrumentos não só de defesa, mas é um reflexo do intimo do ser, que carrega dentro de si, o bem e infelismente a capacidade de tambem fazer o que e mal; onde por assim ser, se faz fundamental que desarmemos os nossos espíritos, SEMPRE !!! (VIVA JESUS !!!)
Excelente conteúdo. Parabéns a autora q captou e
conseguiu apresentar com clareza a idéia de Winnicott que com sua sensibilidade nos auxilia a compreender um pouco mais do psiquismo infantil.
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