Minha avó Julieta ensinava que para um casamento dar certo a esposa às vezes deve ser cega e o marido deve ser surdo sempre. Era sábia. Também pudera...foi casada e conviveu por muitos anos com meu avô Manuel Pires, com quem aprendi alguns dos grandes ensinamentos da minha vida, muitos deles já ditos aqui, como por exemplo: “- Nunca acredite numa história toda”, ou: “- Quem come usura caga maçaroca”. Uso até hoje o mais genial conselho do meu avô.
“- Menino, se você estiver numa reunião com mais de cinco pessoas e não
conseguir identificar quem é o idiota do grupo, pode ir embora porque o
idiota é você”.
Agora me digam mesmo, ensurdecedores leitores, o que isso tem a ver com o que quero contar? Tem sim, porque Mãe Leca escorregou e caiu feio, afetando sua audição.
Ainda está em processo de recuperação, que se mostra muito lento. Mas
como em toda história ruim há sempre que se aproveitar a parte boa,
tenho me divertido bastante ultimamente. Como sei que ela está sem
ouvir quase nada no ouvido esquerdo, sempre que estamos conversando é
desse lado que sento, e aí consigo dizer as maiores barbaridades em tom
bem carinhoso. Bastante vaidosa, nega-se a reconhecer essa
incapacidade. Faz de conta que está escutando e ri bastante, para
espanto dos amigos que frequentam nossas mesas.
Isso de surdez me lembrou a história do mafioso que contratou um
contador surdo-mudo, porque em caso de prisão não seria delatado. Um
dia o bandido descobriu que o tal contador havia desviado dez milhões
de dólares da sua grana. Contratou um advogado que entendia a linguagem
dos sinais (libras) e partiram para apertar o contador a fim de que ele
dissesse onde estava o dinheiro. O contador não aguentou muito e
começou a gesticular para o advogado, que traduzia ao chefão as
mensagens. Só que o advogado entendia uma coisa e dizia outra, o que
aumentava a tortura dos capangas no contador. Finalmente o contador revelou onde escondera a grana; estava enterrada em seu sitio. O advogado então “traduziu” para o mafioso: “- O contador está dizendo que não sabe de nada e que o senhor é um borra-botas, que não tem coragem de mata-lo”. Depois do tiro de misericórdia dado pelo capo, o advogado ficou dez milhões de dólares mais rico.
E já que entrei nessa via, não canso de lembrar daquele patrício que
foi chamado ao IML de Lisboa para identificar o corpo do amigo. Perguntado se o finado tinha algum sinal particular, foi firme: “- Ora, pois, o gajo é surdo”.
Marcos Pires
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