Só depois que já estava sentado ao meu lado, porta do táxi fechada, percebi o estado do meu cliente: duro na cachaça.
Com voz pastosa, o bebum ordenou que eu o lavasse até o "bar do Zé".
Irritou-se quando eu perguntei aonde ficava tal estabelecimento - na
cabeça embriagada dele, todos deveriam conhecer o local. Após alguns
segundos contemplando o infinito, ele forneceu uma pista: Azenha.
Vambora.
Alguma coisa havia acontecido no bar do Zé. O lugar estava cercado por curiosos, duas
viaturas da polícia sobre a calçada e o que parecia ser o corpo de um
homem estirado no chão, coberto por uma toalha de mesa.
- Bah, assaltaram o Zé de novo, taxista.
- Acho que foi mais do que um assalto...
- Será que tá funcionando? Preciso só mais um gole, vou ver se o Zé me atende. Pode deixar o taxímetro ligado.
Meu cliente entrou cambaleando pelo meio dos policiais, afastando a fita
de isolamento, quase tropeçando no morto. Bateu boca. Não demorou a ser
expulso da cena do crime. Voltou para o táxi indignado, de bico seco.
- Ué, o Zé não pode te atender?
- Não.
- O que ele disse?
- Nada. Tá lá, deitado no chão.
Mauro Castro
Taxitramas
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