quinta-feira, 1 de março de 2018

Intervenção ou caos

Meu pai é carioca e tem 65 anos. Nasceu e foi criado na região de Ramos, limítrofe com o que hoje é o complexo do Alemão. Na época que ele morava lá não havia favelas, mas pequenos sítios onde as famílias criavam alguns animais e plantavam. Teve uma infância tradicional de subúrbio, subindo em árvore, jogando bolinha de gude, soltando pipa e aprontando na escola. Mesmo com essas memórias, ainda mais com meu avô que era um boêmio nato amante da noite carioca, meu pai simplesmente odeia o Rio.

O desgosto do meu pai com o Rio sempre foi malvisto por qualquer pessoa que eu comentava a respeito. O Rio, cidade maravilhosa, aquela do samba, do choro, carnaval e uma gelada, das praias, do arpoador, da baía de Guanabara e do Pão de Açúcar? Como assim? Mas, infelizmente, é também o reduto dos intelectuais que não pensam, aonde o cabide de emprego do funcionalismo público impera, o tráfico de drogas comanda e as milícias atuam em conjunto com o poder público. É a capital do Estado que elegeu Brizola, Moreira Franco, Nilo Batista, Marcello Alencar, Benedita da Silva, Anthony e Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral e Pezão. Como amar o Rio?

O Rio está falido, quebrado, jogado às traças. No Rio as coisas não funcionam, os serviços são porcos, mal executados e demorados. O Rio é comandando por vários poderes paralelos com conexões poderosas na política que mantém o status quo custe o que custar. O Rio, mais do que qualquer cidade, fabrica "especialistas" que atuam na contramão de qualquer moralidade. São filósofos, sociólogos, psicólogos e outros que conseguem justificar o furto, o roubo e até o latrocínio como um ato de justiça social forçado. Protegem o criminoso, ignoram a vítima, banalizam o crime e subvertem os incautos.

Depois de tantos e tantos anos negligenciando as necessidades da cidade e do estado, vocês acham que uma intervenção federal não é, no mínimo, justificável? Eu, que não sou especialista em segurança pública, acredito que pior do que está não vai ficar. É um problema muito sério, difícil de resolver, mas que pede medidas drásticas. Não sou fã de centralizar o comando à força e também acredito que mudanças estruturais são muito mais importantes. Mas a solução dos que são contra é vestir uma camiseta onde se lê "mais amor, por favor" ou "gentileza gera gentileza" e continuar a deixar o crime comandar a cidade?

Essa não é a solução ideal ou perfeita. Problemas diversos pode acontecer. Mas ser contra a intervenção apenas porque sim ou porque é o Temer (herança que também passa pelo reduto dos intelectuais burros do Leblon), é continuar ser negligente com o ambiente de guerra que se instaurou na cidade. E meu pai, o que acha? Acha que o Brasil com esse povo, esses políticos e essa bundamolice aguda não vai dar certo é nunca.

Como eu gostaria de acreditar que ele estivesse errado.
Renata Barreto 

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