Meu pai é carioca e tem 65 anos. Nasceu e foi criado na região de Ramos, limítrofe com o que hoje é o complexo do Alemão.
Na época que ele morava lá não havia favelas, mas pequenos sítios onde
as famílias criavam alguns animais e plantavam. Teve uma infância
tradicional de subúrbio, subindo em árvore, jogando bolinha de gude,
soltando pipa e aprontando na escola. Mesmo com essas memórias, ainda
mais com meu avô que era um boêmio nato amante da noite carioca, meu
pai simplesmente odeia o Rio.
O desgosto do meu pai com o Rio sempre foi malvisto por qualquer pessoa que eu comentava a respeito.
O Rio, cidade maravilhosa, aquela do samba, do choro, carnaval e uma
gelada, das praias, do arpoador, da baía de Guanabara e do Pão de
Açúcar? Como assim? Mas, infelizmente, é também o reduto dos
intelectuais que não pensam, aonde o cabide de emprego do funcionalismo
público impera, o tráfico de drogas comanda e as milícias atuam em
conjunto com o poder público. É a capital do Estado que elegeu Brizola,
Moreira Franco, Nilo Batista, Marcello Alencar, Benedita da Silva,
Anthony e Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral e Pezão. Como amar o Rio?
O Rio está falido, quebrado, jogado às traças. No Rio as coisas não
funcionam, os serviços são porcos, mal executados e demorados. O Rio
é comandando por vários poderes paralelos com conexões poderosas na
política que mantém o status quo custe o que custar. O Rio, mais do
que qualquer cidade, fabrica "especialistas" que atuam na contramão de
qualquer moralidade. São filósofos, sociólogos, psicólogos e outros que
conseguem justificar o furto, o roubo e até o latrocínio como um ato de
justiça social forçado. Protegem o criminoso, ignoram a vítima,
banalizam o crime e subvertem os incautos.
Depois de tantos e tantos anos negligenciando as necessidades da
cidade e do estado, vocês acham que uma intervenção federal não é, no
mínimo, justificável? Eu, que não sou especialista em segurança
pública, acredito que pior do que está não vai ficar. É um problema
muito sério, difícil de resolver, mas que pede medidas drásticas. Não sou fã de centralizar o comando à força e também acredito que mudanças estruturais são muito mais importantes. Mas a solução dos que são contra é vestir uma camiseta onde se lê "mais amor, por favor" ou "gentileza gera gentileza" e continuar a deixar o crime comandar a cidade?
Essa não é a solução ideal ou perfeita. Problemas diversos pode acontecer. Mas
ser contra a intervenção apenas porque sim ou porque é o Temer (herança
que também passa pelo reduto dos intelectuais burros do Leblon), é
continuar ser negligente com o ambiente de guerra que se instaurou na
cidade. E meu pai, o que acha? Acha que o Brasil com esse povo, esses políticos e essa bundamolice aguda não vai dar certo é nunca.
Como eu gostaria de acreditar que ele estivesse errado.
Renata Barreto
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