Se eu não tivesse sido educado por Dona Creusa e Dr. Adrião Pires e
não tivesse sido aluno de Dona Maria Bronzeado, correria grande risco de
ser um picareta. Possuo uma enorme biblioteca sobre o tema. Meu filme
de cabeceira é “O golpe de mestre”. É fascinante a matéria porque a
picaretagem só funciona se as vítimas quiserem ser enganadas. Aquela
coisa da vantagem. Meu avô já dizia que quem come usura caga maçaroca.
No meu escritório de advocacia já vi de tudo, inclusive contei aqui a
história de fulano, formado em Direito, homem experiente e vivido que
perdeu 27 mil reais com a promessa de receber um precatório que no
íntimo ele sabia não existir, mas talvez quisesse acreditar numa
benemerência do poder judiciário.
Tenho historias muito mais cabeludas, que não posso contar sem
atingir a honra de autoridades que sei absolutamente honestas, mas cujos
nomes foram usados indevidamente por picaretas para enganar suas
vítimas. Na verdade, os picaretas chamam suas vítimas de sócios, porque
no negócio o picareta entra com a experiência e a vítima com o dinheiro.
No final o picareta fica com o dinheiro e a vítima com a experiência.
Não deixa de ser uma sociedade, hem?
Lembro de um caso escandaloso, ocorrido há mais de 20 anos, onde a
vítima foi procurada por um suposto escritório de advocacia que
conseguiria diminuir o valor mensal e milionário da contribuição
previdenciária que ele recolhia, coisa aí de 1 milhão. Pagaria somente
30% do valor, sendo que os “advogados” ganhariam apenas 10% disso.
Combinado o serviço, mensalmente ele entregava aos picaretas os 300 mil e
posteriormente recebia a guia autenticada pelo banco oficial. Tempos
depois a trama foi descoberta e ele constatou que os tais sócios nunca
recolheram nada, ficavam com os 300 mil que supostamente iam para a
Previdência. Limitavam-se a usar uma máquina velha que arremataram num
leilão de bens inservíveis do tal banco e eles mesmos fazia a
autenticação.
Quando perguntei à vítima por que acreditara no golpe, ele foi muito
sincero: “- Mas Doutor, eles me garantiram que Sua Excelência era quem
comandava o esquema”.
Me digam, honestos leitores, um cidadão desses é inocente?
Hoje o meu abraço vai para os amigos leitores Mozart, Murilo Paraiso e Bessanger.
Marcos Pires
Do blog do Tião
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