Tempo-eixo
de sua História, a chamada Revolução de 30 tem motivado múltiplas abordagens na
Paraíba. Tais abordagens, constantes de ensaios, comunicações, artigos, filmes
e peças de teatro, culminaram com as colocações do Centenário de João Pessoa,
em 1978, e centenário do Levante de Outubro, em 1980. Deles resultaram duas
coletâneas de altíssimo nível – João Pessoa, a Paraíba e a Revolução de 30
(1979), de Abguar Batista et alii, e Revolução de 30 – Discussão final (1984),
coordenada pelo então deputado Marcondes Gadelha, Esta última incorporou-se à
Historiografia do IV CENTENÁRIO DA Paraíba, também crítica e revisionista, em
1985.
A visão desses estudos consistiu em que, antecedida pela presidência João
Pessoa, que arrebatou as funções públicas das mãos dos coronéis, para montagem
de estado autoritário, modernizador e corporativista, a Revolução de 30
voltou-se contra o coronelismo devido ao centralismo que a inspirou.
Influenciada por segmentos estatizantes como as nascentes burguesia industrial
e classe operária, estratos médios e Exército, a Revolução de 30, consagrando o
monopólio da violência legal das Forças Armadas, procurou erradicar o cangaço,
como braço armado do oligarquismo rural. Datou daí o empenho de eliminar
bolsões dotados de milícias particulares, como as de Padre Cícero no Juazeiro,
José Pereira, na Paraíba, Juvenal Lamartine, no Rio Grande do Norte; Horácio de
Matos e Franklin do Pilão Areado, na Bahia. Nesse contexto, Lampião seria
eliminado em 1938.
Depois de exaustivas pesquisas foi essa a conclusão a que também cheguei em A
Revolução Estatizada – Um Estudo sobre a Formação do Centralismo em 30 (1984,
1994). O processo histórico de 30 colocou João Suassuna e José Pereira Lima
frente a João Pessoa e José Américo como categorias institucionais e
históricas. Os primeiros representavam a força centrífuga do coronelismo, a
que, através dos coiteiros, se ligava ao cangaço. Os últimos a dimensão
centrípeta do Estado. Tanto é que, enquanto os primeiros fomentaram os chamados
Batalhões Patrióticos, os últimos fortaleceram a Polícia Estadual.
Em História, todavia, é perigoso oferecer a última palavra. Quando enrijecida
pelos preconceitos, essa conclusão final transforma-se em dogma e mito. Daí o
moderno revisionismo histórico, mais apoiado em refazimento permanente que em
certezas infalíveis.
Este livro constitui demonstração disto. Sessenta e seis anos depois da
Revolução que consagrou movimento contrário ao coronelismo cangaceiral da dupla
Suassuna/José Pereira, redescobre-se monografia contestatória da tese. Esses
não teriam acoitado Lampião, mas o combatido energicamente.
Confesso, com toda lealdade, que os argumentos do jornalista Érico de Almeida
não me convenceram. Mas entendo que a reedição de seu livro é oportuna,
necessária. A História é assim porque seu motor é a dúvida e a dialética.
Palmas, pois, para o jovem geógrafo Romero de Araújo Cardoso , que redescobriu
o livro, e para o não menos eficiente David Fernandes, que o reeditou.
Prof. Dr. José Octávio de Arruda Mello
*Historiador
paraibano, professor aposentado da UFPB e visitante da UFPE. Autor de HISTÓRIA
DA PARAÍBA – Lutas e Resistências.
FONTE: ALMEIDA,
Érico de. Lampeão, sua história. João Pessoa: Editora Universitária, 1996. 128
p. Edição fac-similar de 1926.
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