(Rudyard Kipling)
Um poema de Bertolt Brecht (“A Lenda da Origem do Livro do
Tao-Te-King, de Lao-Tsé”) conta como surgiu o Tao Te King, ou Livro do
Caminho Perfeito, o mais enigmático e mais interessante livro da
filosofia oriental.
Brecht relata que aos 70 anos Lao-Tsé
pretendia se aposentar, aí empacotou suas coisas, montou num boi
(costume chinês) guiado por um rapazinho, e partiu. Ao chegar na
fronteira um guarda da alfândega perguntou quem era ele, para onde ia. O
rapaz explicou. O guarda bateu um papo
com o filósofo, achou interessantes as coisas que ele disse, aí propôs:
“Eu deixo o senhor passar, se o senhor escrever essas coisas. Vai que
depois o senhor morre, ou não volta mais...”
Durante sete dias Lao-Tsé ficou hospedado na cabana do guarda,
escrevendo. Ao partir (para sempre), deixou para trás um manuscrito: o
“Tao Te King”.
Num poema de Rudyard Kipling (“A Ponte de Akbar”) o
Rei da Índia (ou coisa equivalente), Muhammed Akbar, encarrega seu
Vice-Rei de construir a mais bela mesquita do mundo, e vai para a cidade
de Jaunpore para supervisionar a construção.
Uma noite, ele vai
passear disfarçado na beira do rio (como faziam os califas das Mil e Uma
Noites, para saber o que o povo dizia de seu governo), quando vê uma
mulher junto a um barco, praguejando contra o barqueiro ausente. É a
Viúva do Poteiro, uma figura folclórica local. O Rei se oferece para
levá-la ao outro lado do rio, remando.
O Rei começa a remar, e a
mulher esculhamba com ele o tempo todo: “Já não basta meu atraso e o
barqueiro não aparecer, quem aparece é um jumento como esse, que nem
remar sabe!” O Rei na dele, calado.
O
guarda-da-fronteira e a viúva são parceiros no livro e na ponte. Um
sujeito sábio não tem medo de escutar os outros, e um sujeito poderoso
não tem medo de admitir que cometeu um erro. Um filósofo não é apenas um
cara que tem boas idéias, ele sabe reconhecer uma boa idéia alheia.
“Noblesse oblige”. A nobreza obriga a tratar nobremente os que não são
nobres, por compreender que nem todos o são. Ouvir com atenção os
conselhos dos iletrados, e tratar os mal-educados com cortesia. Nobre é
um sujeito, rico ou pobre, que impõe a si mesmo um padrão elevado, e
procura puxar para esse nível de comportamento ele mesmo e todas as
outras pessoas com quem se relaciona.
Ser nobre não é ser
superior, é reconhecer que existe um modo superior de ser, e que todos,
sem exceção, devem se esforçar para ser assim.
Bráulio Tavares
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