A oligarquia chefiada por Epitácio
Pessoa na Paraíba consolidou-se a partir de sua expressiva vitória em
1915, em pleito considerado o mais livre daqueles tempos, sob liderança
eqüidistante de Castro Pinto (1912/1915). Este, indicado como candidato
de conciliação entre as correntes situacionistas, não tinha, porém,
vocação para a política partidária. Sua renúncia levou ao poder o
primeiro vice-presidente Antonio Pessoa, irmão de Epitácio. A partir
daí, os escolhidos para governar a Paraíba ou eram parentes ou de
fidelidade testada ao chefe. Sólon de Lucena atendia aos dois critérios
pois, além de primo, não fazia restrição a qualquer “ordem de Epitácio
Pessoa”.
A sucessão de Camilo de Holanda
encontraria Epitácio na chefia da nação. O partido a nível local era
presidido pelo ex- governador e senador Venâncio Neiva que tinha outras
preferências para suceder Camilo. Todavia, em reunião realizada no
Palácio do Catete, Epitácio escolheria Solon de Lucena para Presidente
da Paraíba, com o apoio, inclusive, do oposicionista Walfredo Leal. O
prestigio do bananeirense com o Presidente da República foi revertido em
benefícios para o estado natal de ambos. Solon não esqueceu a sua
Bananeiras, onde faria chegar o trem “nem que seja por debaixo da terra”
e, implantou o Patronato Vidal de Negreiros, uma escola federal de
ensino agrícola, hoje um campus da nossa universidade. Foi obra sua a
urbanização do curso do riacho Bananeiras, que corta a cidade, e para
onde foram canalizadas as águas pluviais e os dejetos, um projeto de
esgoto a céu aberto hoje muito condenado pelos ambientalistas.
O secretário geral do governo de
Solon seria o professor Álvaro de Carvalho, seu colega docente do
Instituto Bananeirense e, alguns anos à frente, sucessor de João Pessoa.
Outros conterrâneos, também foram lembrados: Walfredo Guedes Pereira
foi nomeado prefeito da capital; Alcides Bezerra, diretor da Instrução
Pública e monsenhor Pedro Anísio, diretor do Liceu Paraibano. Como
oficial de gabinete, Severino de Albuquerque Lucena sucedeu a Paulo
Lucena, ambos filhos do presidente pois, em oligarquia que se preza, os
filhos jamais serão esquecidos...
Nunca um governo estadual paraibano
gozou de tanto prestígio junto aos altos escalões nacionais. Ao assumir,
Solon já encontrou Epitácio Pessoa na chefia da nação e o nordeste
fervilhando de engenheiros e planos de obras de combate à estiagem. Para
a capital paraibana o governo investiria na construção do hoje chamado
Porto do Capim. Graves acusações obscureceram a iniciativa.
“Infelizmente, gastaram mais de vinte mil contos e deixaram em situação
pior que antes dos “trabalhos”. Apenas umas estacadas ficaram sepultadas
nas margens do Sanhauá, denunciando o esforço de um homem e
desonestidade de uma época”, denuncia Apolo nio Nóbrega. No mesmo
período foram construídos mais de mil quilômetros de estradas e
concluída a ferrovia entre Borborema e Bananeiras, cujo túnel da Serra
da Viração, consumiu dez anos de trabalhos.. Solon viveu o suficiente
para ver, em 1925, o trem chegar à sua terra, já atingida pelos efeitos
da praga que dizimou os cafezais. Morreria em 1926.
Em sua ultima mensagem à Assembléia,
Solon de Lucena enumerou as obras realizadas no seu período de governo,
destacando o projeto de saneamento da capital, a cargo do sanitarista
Saturnino de Brito, obra entregue pelo presidente João Suassuna em
janeiro de 1926. Foi do seu tempo a fundação do Banco do Estado da
Paraíba. Esse símbolo da nossa pujança econômica seria abalado
severamente por um inimigo até então desconhecido, o cerococus
parahybenses, que aniquilou a produção cafeeira, então, uma das maiores
riquezas do estado, principalmente nos campos brejeiros, cuja qualidade
rivalizava com o melhor do país. O censo agrícola de 1920 registrava a
existência de cerca de sete milhões e meio de pés de café. Somente
Bananeiras contava mais de dois milhões. “Aproveitamos a classificação e
o conhecimento do inseto, sem contudo, lograrmos um meio eficiente de
combater à praga recal citrante”, lamentaria o governante e cafeicultor
Sólon de Lucena.
Quem visita Bananeiras hoje, pode
contemplar ainda a elegância das suas antigas construções, os sobrados e
casarões que espelham uma época em que mandavam os Barões do Café. Pena
que ao primeiro apito do trem, o café que se destinaria a Cabedelo
houvesse desaparecido.
Ramalho Leite
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