Que se pudesse partir ao meio toda coisa inteira – disse meu tio, de
bruços no rochedo, acariciando aquelas metades convulsivas do polvo –,
que todos pudessem sair de sua obtusa e ignorante inteireza. Estava
inteiro e para mim as coisas eram naturais e confusas, estúpidas como o
ar: acreditava ver tudo e só havia casca. Se você virar a metade de você
mesmo, e lhe desejo isso, jovem, há de entender coisas além da
inteligência comum dos cérebros inteiros. Terá perdido a metade de você e
do mundo, mas a metade que resta será mil vezes mais profunda e
preciosa. E você há de querer que tudo seja partido ao meio e talhado
segundo sua imagem, pois a beleza, sapiência e justiça existem só no que
é composto de pedaços.” (p. 50)
Trecho do clássico "
O Visconde partido ao meio", de Ítalo Calvino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário