(...)As onze horas em ponto estava Simão encostado á porta do quintal, e
a distância convencionada o arreeiro com o cavalo à rédea. A toada da
música, que vinha das salas remotas, alvoroçava-o, porque a festa em
casa de Tadeu de Albuquerque o surpreendera. No longo termo de três anos
nunca ele ouvira música naquela casa. Se ele soubesse o dia natalício
de Teresa, espantara-se menos da estranha alegria daquelas salas, sempre
fechadas como em dias de mortório. Simão imaginou desvairadamente as
quimeras que voejam, ora negras, ora translúcidas, em redor da fantasia
apaixonada. Não há baliza racional para as belas, nem para as horrorosas
ilusões, quando o amor as inventa. Simão Botelho, com o ouvido colado à
fechadura, ouvia apenas o som das flautas, e as pancadas do coração
sobressaltado(...)
Camilo Castelo Branco
Nenhum comentário:
Postar um comentário