Livraria em Londres durante a II Guerra
Os chineses têm uma expressão para rogar praga a
alguém: “Tomara que você viva em tempos interessantes”. É o contrário de desejar
a alguém paz e tranquilidade, não é mesmo? Doris Lessing dizia que os bombardeios nazistas sobre
Londres trouxeram morte e terror para muita gente, mas também trouxeram um pouco
de animação para suas vidas. Uma senhora londrina bem idosa lhe disse uma vez:
“It was a nice change.” (“Foi uma mudança agradável”). Pode ter sido. Para
pessoas que levavam uma vida tediosa, reprimida, asfixiante, a guerra pode ter
representado uma liberação, uma instabilidade onde era possível meter os pés,
arregaçar as mangas, tomar decisões, viver intensamente, em suma. Tempos
interessantes.
Algo parecido é dito por Colin Wilson em vários livros: que durante os bombardeios da II Guerra Mundial os londrinos se divertiam a valer nos bares instalados nos porões. O chão tremia, as bombas caíam a algumas dezenas de metros, mas a música não parava, a bebida rolava solta, todo mundo namorava e dançava pra valer. A proximidade e a possibilidade da morte (bem como a impossibilidade de fazer algo a respeito) pareciam tornar cada minuto mais carregado de significado.
F. Scott Fitzgerald (“Echoes of the Jazz Age”, 1931) dizia que a palavra jazz estava associada “a um estado de estimulação nervosa não muito diferente daquele das grandes cidades logo aquém do front de batalha. Para muitos ingleses, a guerra ainda continua, porque todas as forças que os ameaçavam ainda estão em atividade. Portanto, vamos comer, vamos beber e nos divertir, porque amanhã a gente morre.” Note-se o quanto Fitzgerald tinha razão: a guerra a que ele se refere era a Primeira, e os ingleses tinham uma percepção muito sensata do que lhes vinha pela frente.
Quem gosta de tempos interessantes são as pessoas que gostam de desafios, de aventuras, as que não temem a incerteza, que sabem conviver permanentemente com os próprios medos. Pessoas pacatas são sabem conviver com o medo. Quando estão numa situação mediana e satisfatória de estabilidade, querem que tudo permaneça assim. Têm moradia, comida, trabalho, o básico da vida; e a última coisa que desejam é que essa estabilidade precária seja ameaçada. Diante do novo e do desconhecido, esperneiam e vociferam. São capazes de tudo para manter as coisas do jeito que estão. Entre a aventura de querer melhorar e a segurança de se agarrar ao que já têm, preferirão sempre esta última. Temem as próprias limitações, acham sempre “que não vai dar”, agarram com desespero o pássaro-na-mão que o destino lhes concedeu até agora. Não querem viver em tempos interessantes.
Algo parecido é dito por Colin Wilson em vários livros: que durante os bombardeios da II Guerra Mundial os londrinos se divertiam a valer nos bares instalados nos porões. O chão tremia, as bombas caíam a algumas dezenas de metros, mas a música não parava, a bebida rolava solta, todo mundo namorava e dançava pra valer. A proximidade e a possibilidade da morte (bem como a impossibilidade de fazer algo a respeito) pareciam tornar cada minuto mais carregado de significado.
F. Scott Fitzgerald (“Echoes of the Jazz Age”, 1931) dizia que a palavra jazz estava associada “a um estado de estimulação nervosa não muito diferente daquele das grandes cidades logo aquém do front de batalha. Para muitos ingleses, a guerra ainda continua, porque todas as forças que os ameaçavam ainda estão em atividade. Portanto, vamos comer, vamos beber e nos divertir, porque amanhã a gente morre.” Note-se o quanto Fitzgerald tinha razão: a guerra a que ele se refere era a Primeira, e os ingleses tinham uma percepção muito sensata do que lhes vinha pela frente.
Quem gosta de tempos interessantes são as pessoas que gostam de desafios, de aventuras, as que não temem a incerteza, que sabem conviver permanentemente com os próprios medos. Pessoas pacatas são sabem conviver com o medo. Quando estão numa situação mediana e satisfatória de estabilidade, querem que tudo permaneça assim. Têm moradia, comida, trabalho, o básico da vida; e a última coisa que desejam é que essa estabilidade precária seja ameaçada. Diante do novo e do desconhecido, esperneiam e vociferam. São capazes de tudo para manter as coisas do jeito que estão. Entre a aventura de querer melhorar e a segurança de se agarrar ao que já têm, preferirão sempre esta última. Temem as próprias limitações, acham sempre “que não vai dar”, agarram com desespero o pássaro-na-mão que o destino lhes concedeu até agora. Não querem viver em tempos interessantes.
Bráulio Tavares
(mundofantasmo)
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