Seguimos na mesma pegada lírico-momesca, caro Zé Cláudio, cronista-mor de
Pernambuco que, por acaso, e jamais só por isso, ilustra esse blog manhoso e
pé-de-lã.
José Cláudio, você sabe lá o que é isso? Um gênio das artes, que orgulho,
procure saber, cambada de corno (rs).
Recebi exatas 52 consultas sobre como conviver com o barraco dos casais cujas
carnes são carnavais.
Amo confiarem tanto num cronista vagabundo cujo lema sempre foi “só o vento
sabe a resposta”.
Lindo demais e que seja assim por toda a vida, amor mais nada pedirei, como
cantava o comovente Nilton César.
Só me resta repetir velhas lições para o leitor que chegou agora:
O código da moral provisória foi inventado pelo enfezado Jean-Paul Sartre,
aquele filósofo francês que queria comer todas as alunas e carecia de uma
desculpa intelectual para a coisa. O colega Caio Túlio Costa, no seu livraço
“Ética, jornalismo e nova mídia”, que me ensinou essa parada, algo assim como
“lavou tá novo”.
Sim, amigo, Carnaval sempre foi um perigo para os pombinhos que resolvem
brincar juntos. Sempre a favor do amor e da paz nos lares doces lares, este
cronista deixa algumas dicas úteis – e outras nem tanto- para os foliões que se
arriscam de mãos dadas na festa da carne.
Concordo: a missão é quase impossível.
“Só se forem brincar em um baile de casa de swing”, corneta aqui um amigo
urso pé-de-lã, cético no último. “Utopia, meu caro”, diz o outro, homem sério e
ainda enfeitado com as serpentinas de um trauma antigo. “Calma, senhores”, tento
amansar os cavalheiros da nossa távola.
Até que aparece a primeira dica, com o humor que a ocasião nos pede:
“Aprenda a abraçar seu amor de forma satisfatória com apenas um dos braços,
já que a outra mão vai ter uma cerveja sempre”, aconselha o estratégico Rodolfo
Barreto, o único da mesa que pode ser identificado sem problemas.
O mesmo camarada alerta sobre o capítulo das fantasias. É recomendável que o
casal saia às ruas ou aos bailes sempre vestido de fantasias complementares,
como Adão e Eva, por exemplo. Ou Adão e a cobra. Tabém vale.
Agora uma moça se intromete lindamente na conversa. Ótimo, assim não fica uma
visão tão porco-chauvinista:
“O ideal é se perder do bloco, depois se encontre de trombada e beije seu
namorado como se estivesse beijando alguém que nunca viu em uma micareta na
vida”, diz a danada, clássica diabinha, afe paudurescência da gota serena.
Há também quem acredite existir uma única fantasia possível para os
enamorados: um se veste de paciência; o outro de compreensão. E segurem a onda
para que as máscaras não caiam diante de possíveis tentações avulsas. Nada
fácil.
Não é à toa que muitos casais preferem o sossego de uma praia, a mais sábia
das decisões. Principalmente para quem já correu muito atrás do trio elétrico e
do Galo da Madrugada.
Otimista qual uma Pollyana fanática, eu acredito na celebração conjunta.
Palavra de quem já viveu o inferno de brincar juntos, mas também encarou, na
boa, e com muito amor, até o inferninho brega e fogoso do I Love Cafusú no Preto
Velho, Olinda.
E depois, evidentemente, o baile mais quente e joiado do pedaço: “Seguranças
de Lala K”, pense na raparigagem. Culpa, óbvio uluante, minha criança, do Felipe
Machado –soube que anda pensando em virar a tapioca para o Santinha, minha
gente, vê se phode!
Sim, existem os espertinhos(as) que arranjam uma briga ainda na véspera. São
os piores: crime premeditado.
Pior mesmo é tentar bancar o casal moderno e fazer o pacto da carnificina.
Aquele em que cada um brinca em um canto da cidade ou em Estados diferentes.
Terrorismo amoroso na certa. Fica o suspense e um sofrimento medonho. Carece
muita evolução ou safadeza propriamente dita para segurar essa bronca.
E entre os mascarados papangus de Bezerros?
Ninguém é de ninguém mesmo. Pense num terrorismo amoroso, pense em um
suspense à Hitchcock.
Amar é… lindamente não ter certeza das coisas. No amadorismo do carnaval ou
no resto da vida que nos sobeja.
Pombinhos, paz na terra aos homens de boa vontade. E se rolar algum acidente,
dêem aquele desconto necessário, afinal de contas chifre de Carnaval não dói nem
enxovalha a honra de seu ninguém. Acontece.
As cinzas da quarta, reza a cartilha religiosa, ungem lindamente as nossas
testas, amém
Evoé, Baco!
Xico Sá
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