Em uma reação bem-humorada à onda metrossexual que assola a humanidade, vi
agora na tevê, no intervalo de um programa esportivo, uma propaganda de um
desodorante para o homem-homem.
Você provavelmente já deve ter visto também a essa altura.
O cara manda a porrada no coqueiro e cata um coco para agradar a dama. E haja
cenas épicas do gênero, como acender uma vela de um jantar romântico, com um
lança-chamas. Tudo para fazer derreter a mocinha como em um filme do velho
Oeste.
Aí vem a assinatura, em uma voz que pulveriza testosterona na sala: o
desodorante do cabra-macho!
Não chega a anunciar uma nova terra prometida pelos caubóis de Marlboro, mas
é um comercial ousadíssimo para tempos exageradamente corretos. E com um humor,
a partir dos cliclezões da macheza perdida, que você não encontra mais na
publicidade apenas engraçadinha e adolescente de hoje -olha a nostalgia aí,
gente!
Óbvio que eu preferia o gaúcho de Alegrete Paulo César Pereio ou, no mínimo,
o Zé Mayer, mineiro de Jaguaraçu, no papel que coube ao Malvino Salvador, com
todo respeito ao moço, óbvio.
O reclame me fez recordar os usos e costumes do macho-jurubeba, essa versão
ainda mais original, o macho roots, o macho de raiz. O termo nasceu mais
precisamente no sítio das Cobras, na zona rural de Santana do Cariri, onde este
cronista entre bravos se criou.
Revisitemos, pois, a capanga do macho-jurubeba, que já foi tema deste blog e
agora relembramos para as novas e desavisadas gerações:
Era um sujeito vaidoso sim, mas sem frescuras. Não confunda.
Na capanga do macho-jurubeba, encontramos um espelhinho oval com o escudo do
seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou
Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina no caso dos
cabeleiras, um frasco de leite de colônia faz vezes de desodorante.
Vemos também, no fundo do embornal, uma latinha de Minâncora e outra de banha
de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou
cabruncos.
Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba
naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros.
Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também
Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em
todo o mundo”.
Vemos também, no kit macho, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a
marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico, afinal
de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável.
O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.
Era o máximo permitido.
Hoje, você sabe como é, o cara anda por ai com a nécessaire estourando o
zíper de tanto creminho.
Outro dia uma amiga de SP foi obrigada a dar uma dura no namorado:
“Ah, não, bancada de creme maior do que a minha na-na-ni-não, a bancada dele
parecia a da Adriane Galisteu que vi na “Quem”, uns dois quilômetros de
metrossexualismo explícito”.
E rolou a maior D.R., a mitológica discussão de relacionamento, da história
do bairro das Perdizes e arredores. O amor não resistiu à guerra dos
potinhos.
Xico Sá
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