segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Como curar a dor de amor pelo estômago

Bom dia, tristeza. Bom dia, ressaca. Segunda-feira é dia de receitas para mulheres tristes, como no livro acima do compay colombiano Héctor Abad.
 
Há quem diga que a dor de amor está diretamente ligada ao aparelho digestivo. Não às simbologias do coração. Muito menos às ondas do cérebro e o controle da serotonina.
 
É o caso de um personagem de um dos melhores livros da literatura latino-americana: “Tia Julia e o Escrevinhador”, de Mario Vargas Llosa.
 
Repare na tese do rapaz:
 
“Para dores de amor, nada melhor do que leite de magnésia(…). Na maior parte das vezes, os chamados males de amor, etcétera, são distúrbios digestivos, feijões duros que não digerem, peixe estragado, entupimento. Um bom purgante fulmina a loucura do amor.”
 
A gente sabe que o enfezamento é um dos grandes males da humanidade. Também é do conhecimento público que a mulher, mais que o homem, padece da prisão de ventre.
 
De acordo com a ficção de Vargas Llosa, aquilo que você, rapariga em flor ou linda afilhada de Balzac, imagina como recaída amorosa… pode ser apenas a falta de digestivas ameixas.
 
Com Héctor Abad, a salvação está nas receitas culinárias e em uma certa feitiçaria dos selvagens da América do Sul.
 
Não havia dado muita bola para o livro dele até uma semana atrás, quando o jornalista Paulo Carvalho (Diario de Pernambuco), em um bate-papo comigo no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), tratou de uma certa semelhança entre os textos deste blog e as receitas do colombiano.
 
Precisei ser mordido pela humaníssima mosca azul da vaidade para ler com atenção o receituário. Recomendo.
 
Quando o tédio se instala de vez entre os casais e só o silêncio faz um eco infernal, Abade recomenda que se vá à caça de boas perdizes. Arrastões à parte, pode ser também num restaurante de São Paulo.
 
Ele disse que te ama e você não tem certeza se é verdade? Há uma fictícia sopa que mudará de cor caso o canalha esteja mentindo.
 
As receitas são simples. Pura literatura disfarçada de linguagem de almanaque, coisa que os escritores brasileiros, em nome de fracassadas obras primas, estão esquecendo.
 
Para a mulher curar parceiros impotentes, o livro recomenda a paciência de 31 noites. O cara será o maior amante da história. Terá a amiga tanta paciência?
 
O melhor é o remédio contra a culpa. Carne de dinossauro. Eles foram extintos há 65 milhões de anos.

 
 
Xico Sá

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