quinta-feira, 7 de março de 2013

Depois da orgia

O prazer que na orgia a hetaíra goza
Produz no meu sensorium de bacante
O efeito de uma túnica brilhante
Cobrindo ampla apostema escrofulosa!

Troveja! E anelo ter, sôfrega e ansiosa,
O sistema nervoso de um gigante
Para sofrer na minha carne estuante
A dor da força cósmica furiosa.

Apraz-me, enfim, despindo a última alfaia
Que ao comércio dos homens me traz presa,
Livre deste cadeado de peçonha,

Semelhante a um cachorro de atalaia
Às decomposições da Natureza,
Ficar latindo minha dor medonha!
 
 
Augusto dos Anjos

Um comentário:

Jairo Alves disse...

Laços da hetaíra



Depois da cúpula sangrenta
a faminta ópera semeia,
Do moço a lânguida veia
fermenta tua lâmina sedenta

Banhada de sequiosas espumas
fumaste do arroubo crepitante,
não mais o furor palpitante
que na terna e volumosa escuma

mas redestes ao afável, delira
nas plagas idônias, selvagens;
teu dorso, tua ira, são massagens
excentricas dos gomes da hetaíra

E fizeste do olhar moribundo
a cratera de todos os mistérios
Forjou-se o corpo em adultérios
vomitando a culpa do gozo imundo!