Vedete de pesquisas científicas recentes, o
chocolate, além de tudo, é agora um possível aliado na luta para a perda de
peso, conforme um estudo feito pela Universidade da Califórnia.
O trabalho, publicado na revista americana
"Archives of Internal Medicine", analisou os hábitos alimentares de 972 pessoas
entre 20 e 85 anos sem doenças cardiovasculares, diabetes ou colesterol.
Entre os voluntários, aqueles que relataram comer
chocolate mais vezes, mesmo mantendo no cardápio uma quantidade maior de gordura
saturada e calorias, foram os que tiveram menor IMC (índice de massa corporal).
O benefício atribuído ao alimento foi identificado até entre os participantes
que não praticavam atividades físicas.
O trabalho não investigou como isso acontece.
Porém, há algumas hipóteses.
Beatrice Golomb, autora do estudo, afirmou a
jornais americanos que os ácidos fenólicos presentes no cacau, como os
flavonoides, ajudam a equilibrar a produção do hormônio leptina, que se comunica
com o hipotálamo, no cérebro, aumentando a sensação de saciedade e acelerando a
queima calórica.
Outro estudo, da Universidade Real de Copenhague,
avaliou o apetite de 16 jovens saudáveis antes e depois da ingestão 100 g de
chocolate amargo ou ao leite.
"Sempre que comiam o chocolate amargo, os
participantes sentiam menos fome e consumiam menos alimentos", afirmou à Folha a
pesquisadora Lone Sorensen, coordenadora da pesquisa.
A ingestão de calorias pós-chocolate amargo foi
15% menor em comparação com consumo pós-chocolate ao leite. Para ela, uma
explicação é o alto teor de manteiga de cacau no produto, que significa mais
ácido esteárico (tipo de ácido graxo). A substância retarda o esvaziamento do
estômago e do intestino.
Controle do apetite
O chocolate ganhou status de alimento funcional
por causa dos flavonoides presentes nas sementes do cacau. Essas substâncias têm
poder antioxidante, melhoram a circulação e o funcionamento das células
cardíacas, explica a nutricionista Milene Pufal, da PUC-RS.
Para conseguir esses benefícios, quanto mais
cacau, melhor, por isso a indicação do tipo amargo.
Depois de estudar 16 pesquisas científicas sobre
o assunto, a nutricionista Vanderli Marchiori passou a indicar o chocolate com
alto teor de cacau a pacientes que precisam controlar o apetite. Ela recomenda
de 20 a 40 gramas ao dia para qualquer dieta, como arma para diminuir a vontade
de comer doce.
Marchiori explica que o equilíbrio do hormônio
leptina ativa os receptores opioides, localizados no sistema límbico (parte do
cérebro responsável pelas emoções). Esses receptores reduzem a compulsão
alimentar. "Eles diminuem as chances de recaída entre pessoas viciadas em
açúcar."
Faltam estudos
Mais cauteloso, o endocrinologista Marcio
Mancini, chefe do Grupo de Obesidade do Hospital das Clínicas de São Paulo,
afirma que são necessárias mais evidências para associar chocolate e redução de
peso.
"Há apenas um estudo em ratos mostrando que os
polifenois do cacau promovem uma redução de massa, diminuindo o armazenamento de
gordura por maior gasto de energia celular."
Para quem deseja emagrecer, Sorensen lembra que,
amargo ou não, o chocolate é rico em energia. "São até 500 calorias para cada
100 gramas. Não é para comer grandes quantidades. Mas é uma ótima ideia trocar a
versão ao leite pelo chocolate amargo, porque ele satisfaz o desejo de doces por
um longo tempo", diz ela.
A pesquisadora Adriana Buitrago Lopez, do
Departamento de Cardiologia da Universidade de Roterdã, na Holanda, afirma que o
consumo de grandes quantidades de chocolate pode anular seus benefícios. "Leva
ao ganho de peso, o que aumenta o risco cardíaco", alerta.
Lopez participou de um estudo que envolveu cem
mil pessoas e avaliou o efeito da ingestão de chocolate sobre a incidência de
ataques cardíacos e derrames (leia mais no quadro ao lado).
Problema de sabor
Além das calorias, outro porém do chocolate
amargo é o sabor. "Muitos consumidores ainda não estão adaptados", diz Cynthia
Ditchfield, engenheira química e professora da Faculdade de Zootecnia e
Engenharia de Alimentos da USP.
Ela e outras professoras estudam, desde 2009, uma
maneira de deixar o chocolate com alto teor de cacau (acima de 50%) menos
amargo.
A pesquisa aborda as variedades de cacau
utilizadas, a microbiologia e os processos produtivos. Cor, textura, acidez,
teor de lipídeos, açúcares e proteínas, tudo está sendo levado em conta.
A conclusão preliminar é que há margem para
avanços, que podem ser conquistados a partir de fatores que vão desde a seleção
e a separação das amêndoas do cacau até o aperfeiçoamento na fabricação do
produto. "É possível substituir processos industriais e melhorar o sabor do
chocolate amargo. Entretanto, na grande indústria o espaço para essas mudanças é
menor, o que indica que os chocolates com mais cacau continuarão a ter uma
produção mais restrita e segmentada", diz Ditchfield.
Fonte: UOL
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