"Na obra "A Terra e o Homem no Nordeste", o geógrafo Manuel Correia de
Andrade apresenta um minucioso relato do que podemos considerar uma cronologia
das práticas do sertanejo:
“Assim, preocupando-se com uma possível seca, o sertanejo está sempre às
voltas com as ‘experiências’ e prognósticos sobre a possibilidade de chuvas nos
anos que virão. Para estas ‘experiências’ o dia de Santa Luzia (13 de dezembro)
é o mais importante, uma vez que o toma como ponto de referência para o mês de
janeiro do ano seguinte e os dias que se seguem correspondem aos outros meses
(assim o dia 14 é fevereiro, 15 é março, 16 é abril e assim por diante até o
dia 24 que corresponde ao mês de dezembro). No dia em que chover, o mês
correspondente será de chuva e naquele em que não chover, o mês correspondente
será seco.
Outra experiência consiste em colocar-se seis pedras de sal,
representando os seis primeiros meses do ano (vindouro) sobre um plano, no
‘sereno’, na noite de Santa Luzia. Pela manhã, a pedra que mais estiver
dissolvida representa o mês mais chuvoso do ano que se segue. Se essas
experiências derem resultados negativos, o sertanejo, apreensivo, começa a
pensar nos horrores da seca e na possível necessidade de retirada.
Também são desanimadoras as perspectivas do ano seguinte se, em novembro
ou dezembro, não chover no Oeste do Piauí. Isto porque a estação “invernosa”
piauiense precede a da porção Oriental do nordeste.
Igualmente, se não chover até o dia 19 de março, dia de São José, o
sertanejo perde totalmente as esperanças e, se é pobre, trata de migrar, se é
rico procura armazenar os alimentos necessários para atravessar a crise. É que,
mesmo chovendo após este dia, a estação chuvosa não terá a duração necessária
ao desenvolvimento das plantas que semearem.”
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