Minha sogra, meu tesouro. Domingo, não sei se por causa dos almoços familiares, sempre lembro delas.
Volto a uma incrível narrativa, aqui na rede da varanda do Capibaribe: “Livro de uma Sogra”(ed.Casa da Palavra), do escriba Aluísio de Azevedo.
Folclorizada no último, espécie de bumba-meu-boi dos casamentos, a sogra sempre foi motivo de chacota e demonização nos lares doces lares.
Óbvio que há um certo e maligno inseticida do exagero pulverizado sobre a mãe das nossas mulheres, mas, convenhamos, as referidas senhoras estão longe de obter o alvará de soltura e de inocência neste debate.
O problema é sério e universalíssimo.
A mãe da cria das nossas costelas age da mesma forma em qualquer parte do planeta. Seja na Suécia, no Crato ou no reino dos esquimós e avatoscos.
Viram, outro dia, aquela iniciativa da Igreja Católica na Itália? Começou a tentar reeducar as sogras em nome da manutenção dos casamentos e da paz nos lares doces lares.
Em alguns rincões do lindo país macarrônico, os sogros são responsáveis por até 50% do desmantelo conjugal dos pombinhos.
Mas existe sim a sogra perfeita. Ela se chama dona Olímpia.
Nunca cheguei a ter uma dona Olímpia, mas, amigo, cheguei perto. Tive ótimas sogras. Algumas delas,generosamente, sempre me alimentaram de bons acepipes e riram das minhas pilhérias e chistes sem graça nos almoços dominicais.
No mínimo, havia um bom tratamento a um romântico que amava suas filhas –com algum risco que isso pudesse implicar, claro.
Dona Olímpia, porém, foi a melhor sogra do mundo, a perfeita, aquela que descobriu a forma de fazer filha e genro felizes. Felizes na medida em que isso é possível em um casório.
A distinta senhora existiu de fato. É a personagem maravilhosa do tal e genial “Livro de uma Sogra”, aquele mesmo autor de “O Mulato” e “O Cortiço”, tão obrigatórios nos bancos escolares.
Com a sua sogra exemplar, no entanto, o maranhense é divertidíssimo. Livraço. Olímpia, ainda no remoto 1895, sabe tanto das coisas que sempre trata de separar, com pequenas viagens e obrigações nada chatas, a sua filha e o consorte.
Tudo para que nunca caiam na rotina acachapante. Quando noivos, reparem que gênia, ajuda a criar histórias que o deixem no suspense amoroso, apenas com boas pontinhas de ciúmes.
Olímpia, que já havia passado por um casamento desastroso, cuida até em reduzir a solenidade da lua de mel, orientando os recém-casados a se embriagarem sem a obrigação do grande coito na noite inaugural.
A consumação do amor, segundo ela, não poderia ser algo burocrático e abrupto, viria num crescendo de beijos e ternuras até uma explosão naturalíssima. Um belo exemplo!
Xico Sá
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