É desanimador ouvir um sírio falando, olhando nos seus olhos e contando o que acontece em seu país.
Começou ontem a manifestação síria, aqui na Praça Syntagma, onde está situado o Parlamento grego. De maneira tímida, mas que atraía a atenção de absolutamente todos que passavam por alí.
O brasileirinho aqui, de gaiato, percebia a estupefação dos gregos. Talvez pensando que a grave crise econômica era pinto, se comparada aos depoimentos e fotos de crianças com a cabeça esmigalhada? Não sei. Talvez.
Mas hoje a coisa toda tomou proporção bacana, grande. Enormes tapumes com fotos, caricaturas e relatos. Barracas vendendo comidas, sopas, broches e camisas. Muitas bandeiras sírias tremulavam e um palanque improvisado servia para que os manifestantes pudessem falar para o povo.
Parei por perto de uma barraca e comecei a puxar papo. Comunicação existiu, ainda que com muitos gestos e alguns murmúrios. Quando o sujeito quer, consegue se comunicar, ainda que com algum esforço. Logo depois apareceu uma jovem falando inglês fluente, e então pude fazer perguntas e dizer o que achava de tudo.
- A grande maioria mora aqui, alguns vieram direto de Damasco e Homs – me dizia, enquanto ao fundo podia-se ouvir o orador da vez dizendo que presenciou torturas e assasinatos de crianças, “ninguém me contou, ví com meus próprios olhos”, até engasagar e cair no choro, na frente de todos.
Escolhi algumas coisas e ajudei um pouco mais, tremendamente envergonhado. Provavelmente não deveria, mas foi como me senti. Não tenho culpa alguma do que Assad vem fazendo, tampouco endosso a vergonhosa atuação de chineses e russos no Conselho de Segurança, mas ainda assim me senti mal.
Com cinco minutos de CNN você já se sente desconfortável, mas ouvir os escabrosos relatos é diferente. É drama dos brabos, só que real, direto na veia.
- Tem certeza? A gente te agradece. – me disse, quando sinalizei que não queria troco.
Me senti ainda menor. Não tinha para onde correr. Se não ajudar me seria inconcebível, os parcos euros de que me desfiz provavelmente só valerão algumas balas.
Entre o conforto pela boa ação e a frustração por não pode fazer mais, fica a torcida.
Boa sorte para a revolução síria. Estão precisando.
*Blog de Mário Vitor Rodrigues
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