sábado, 10 de abril de 2010

Porque e suas diferentes formas

O general é um sujeito esquisito. Quando está cansado, fecha-se no quarto e não fala com ninguém. Quero muito falar com ele, mas vejo que seu cansaço me impede de fazer isso.

– Como? Só porque está cansado, não pode falar com você?

– Pois é. Esse general tem mesmo um quê de mistério. Ou, quem sabe, de orgulho...

– Um quê de mistério? Eu sei onde está o quê do seu mistério. Por que ele não quer atendê-lo? Preciso saber por que ele não quer atendê-lo. Preciso saber por quê.

– Eu não quero nem saber. Talvez seja porque ele esteja cansado mesmo, muito cansado. Deixa pra lá!

O uso de porque, porquê, por que e por quê merece especial atenção. Vemos no texto porque usado de diferentes formas.

Quando, na interrogação, o motivo vier explícito, usa-se porque: Só porque está cansado, não pode falar com você? Porque, nesse período, introduz uma oração subordinada que expressa causa (motivo explícito); no exemplo, é a primeira oração do período.

Quando, na pergunta, se quer saber o motivo, a causa, usa-se por que (separado); tanto em interrogação direta como indireta: Por que ele não quer atendê-lo? Preciso saber por que ele não quer atendê-lo. Temos duas frases interrogativas nos exemplos: uma direta e outra indireta, daí por que separado.

Na frase do texto, Preciso saber por quê - por que está acentuado por se tratar da última palavra de uma interrogativa indireta. Em Ele não fala com você por quê? A interrogativa é direta.

Por que ocorre também, quando por é preposição e que equivale a qual (pronome relativo): Sei o motivo por que ele não quer falar. (motivo pelo qual.).

Na função de substantivo, porquê (junto e com acento) vem antecedido de artigo (definido ou indefinido), com outro significado: O porquê da atitude do general é estranho. É um porquê incomum. (porquê significa motivo).

Que é usado em várias funções. Só é acentuado, se vier no final de uma interrogação ou se tiver a função de substantivo. Assim: Ele respondeu o quê? Sei onde está o quê do seu mistério.

Ainda se usa quê (com acento), quando ele equivale a uma interjeição: Quê?! Isso não se faz.

Nos demais casos, que não é acentuado:

Que aconteceu? (pronome interrogativo).

Que bobagem que ele faz! (1º que=quanta, pronome indefinido; 2º que, partícula expletiva).

Que bonito é esse quadro! (que=quão, advérbio)

Vi o pacote que ele trouxe. (pronome relativo).

Feche o livro, que a aula terminou. (conjunção coordenativa explicativa).

Respondi que não sabia do caso. (conjunção subordinativa integrante).

Que também representando as demais conjunções subordinativas: causal, comparativa, consecutiva, temporal, concessiva, final.



Profª Terezinha Almeida Silva

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