Usual na culinária francesa, produtores brasileiros de
queijos temperados de cabra travam uma batalha com a Secretaria Estadual
de Desenvolvimento de Agropecuária para renovar o registro dos produtos
Hoje a coluna vai falar de gastronomia e literatura. É uma história
bem brasileira que começa em 1971, quando o poeta e dramaturgo Ariano
Suassuna lança o romance “A Pedra do Reino” e ganha o prêmio nacional de
ficção do Ministério da Educação. Com o dinheiro, o poeta, em parceria
com o primo, compadre e sócio Manuelito compra 200 cabras para iniciar
uma produção de queijos.Visionário, Ariano Suassuna já apostava no
potencial dos caprinos: “A cabra é o agente modificador político,
econômico e literário do sertão do Nordeste”, previu.
Hoje, passadas muitas décadas, a frase faz todo o sentido. A fazenda
Carnaúba, no município de Taperoá, no sertão da Paraíba, produz queijos
com leite de cabras, temperados com ervas nativas. Os animais são das
raças parda sertaneja, moxotó, graúna, serrana azul, repartida, canindé,
marota, muciana preta, caoba e biritinga. Espalhados pela caatinga,
provam que podem viver e resistir no árido sertão.
O consumo de queijos temperados ainda não é muito comum no Brasil mas
é usual na culinária francesa. Os queijos especiais e artesanais
chamaram a atenção do chef Onildo Rocha, um talentoso chef paraibano e
dono do restaurante Cozinha Roccia, em João Pessoa. Ele ficou encantado
com os queijos, que hoje são destaque no cardápio criativo e inovador do
chef.
Onildo, que pesquisa as origens da cozinha regional paraibana e usa
ingredientes locais, reforça a opinião de Ariano Suassuna, e acredita
que os queijos são a grande alternativa para tirar proveito da seca. Os
queijos do sertão paraibano são vendidos hoje em delicatessens e lojas
especializadas em outros Estados. Em Brasília são comercializados na
Bodega Austral, na SCN 112 Norte. A procura é crescente, pois são muito
saborosos.
Na Paraíba, os produtores travam uma batalha com a Secretaria
Estadual de Desenvolvimento de Agropecuária, que tem se recusado a
renovar o registro dos produtos, alegando que eles precisam se adequar
aos nomes do mercado, a maioria de origem estrangeira, como boursin ou
chèvre. Na fazenda Carnaúba, os queijos são temperados com ervas
sertanejas e chamados de cariri, arupiara e borborema.
Miriam Moura é jornalista, com larga experiência na
cobertura política em Brasília. Trabalhou em jornais como O Globo, O
Estado de S. Paulo e foi assessora de Comunicação em tribunais
superiores, como STJ, TST e CJF. É diretora de Consultoria e
Treinamentos na Oficina da Palavra e In Press Oficina.
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