sábado, 4 de novembro de 2017

Os queijos de cabra literários do sertão paraibano

Usual na culinária francesa, produtores brasileiros de queijos temperados de cabra travam uma batalha com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento de Agropecuária para renovar o registro dos produtos

Hoje a coluna vai falar de gastronomia e literatura. É uma história bem brasileira que começa em 1971, quando o poeta e dramaturgo Ariano Suassuna lança o romance “A Pedra do Reino” e ganha o prêmio nacional de ficção do Ministério da Educação. Com o dinheiro, o poeta, em parceria com o primo, compadre e sócio Manuelito compra 200 cabras para iniciar uma produção de queijos.Visionário, Ariano Suassuna já apostava no potencial dos caprinos: “A cabra é o agente modificador político, econômico e literário do sertão do Nordeste”, previu.

Hoje, passadas muitas décadas, a frase faz todo o sentido. A fazenda Carnaúba, no município de Taperoá, no sertão da Paraíba, produz queijos com leite de cabras, temperados com ervas nativas. Os animais são das raças parda sertaneja, moxotó, graúna, serrana azul, repartida, canindé, marota, muciana preta, caoba e biritinga. Espalhados pela caatinga, provam que podem viver e resistir no árido sertão.

O consumo de queijos temperados ainda não é muito comum no Brasil mas é usual na culinária francesa. Os queijos especiais e artesanais chamaram a atenção do chef Onildo Rocha, um talentoso chef paraibano e dono do restaurante Cozinha Roccia, em João Pessoa. Ele ficou encantado com os queijos, que hoje são destaque no cardápio criativo e inovador do chef.

Onildo, que pesquisa as origens da cozinha regional paraibana e usa ingredientes locais, reforça a opinião de Ariano Suassuna, e acredita que os queijos são a grande alternativa para tirar proveito da seca. Os queijos do sertão paraibano são vendidos hoje em delicatessens e lojas especializadas em outros Estados. Em Brasília são comercializados na Bodega Austral, na SCN 112 Norte. A procura é crescente, pois são muito saborosos.

Na Paraíba, os produtores travam uma batalha com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento de Agropecuária, que tem se recusado a renovar o registro dos produtos, alegando que eles precisam se adequar aos nomes do mercado, a maioria de origem estrangeira, como boursin ou chèvre. Na fazenda Carnaúba, os queijos são temperados com ervas sertanejas e chamados de cariri, arupiara e borborema.

Miriam Moura é jornalista, com larga experiência na cobertura política em Brasília. Trabalhou em jornais como O Globo, O Estado de S. Paulo e foi assessora de Comunicação em tribunais superiores, como STJ, TST e CJF. É diretora de Consultoria e Treinamentos na Oficina da Palavra e In Press Oficina.

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