Nós vamos à guerra, mas fugimos de um consultório médico como
o diabo da cruz. O eterno medo do macho diante de um diagnóstico.
Quando o assunto é o exame de toque, Nossa Senhora do Ó, o
tabu é quase imbatível.
Só vamos ao médico à força. Na maioria das vezes arrastados
pelo braço, como crianças. Graças às nossas zelosas mulheres.
Repare nos números oficiais de uma pesquisa da Secretaria de
Saúde de São Paulo: 60% dos marmanjos só procuram o homem de branco quando a
doença já atinge um estágio muito crítico.
O levantamento me fez lembrar a minha primeira vez no exame
mais aterrorizante para a macheza latina:
-Senhor Francisco?!
-Sim…
Chegou a hora da verdade. As rotas de fuga estão obstruídas.
Não há escapatória. Naquele instante, o primeiro homem de gerações e mais
gerações do ramo sertanejo dos Sá Menezes seria submetido ao labiríntico mundo
da procto-investigação.
Que fazer?, resigno-me, leninista rendido ao mais dialético
dos toques da humanidade.
Ao adentrar o recinto, lembrei logo da infame pilhéria. “O
médico introduz o dedo no respeitável cidadão e pergunta: ‘Sentes alguma
coisa?’. Ao que o paciente sussurra: “Sinto que te amo.”
Recordei também de um amigo, rapaz de Serra Talhada, terra de
Lampião, que era tão macho, mas macho de um jeito que usava dois sabonetes no
seu banho: um Phebo para a parte dianteira e um Lux de Luxo exclusivo da
traseira. “Esse contato é perigosíssimo, não se deve misturar as vocações”,
dizia, no banheiro coletivo da Casa do Estudante.
Era chegada a hora. Ao sacrifício, pois. Segura na mão de
Deus e vai! O simpático doutor tenta disfarçar suas feições mal-assombradas à
Anthony Hopkins. Foco nas mãos do monstro. Dedos médios, mas habilidosos como
um manipulador de teatro de bonecos.
“Que macho sou eu, ora bolas!”, penso, para me encorajar. O
médico ordena que eu deite. Um amigo da firma me contou que a primeira vez dele
havia sido na clássica posição “de ladinho”. A minha foi, napoleonicamente
falando, de bruços mesmo, quase de quatro, diria.
No meu retrovisor imaginário, vejo o dublê de Hopkins colocar
uma espécie de camisinha de dedo. Depois, a vaselina, o lubrificante, sei lá. E
não foi com o mindinho, muito menos com o seu vizinho, coube o serviço ao
matreiro fura-bolo, como no folguedo infantil.
Mas tudo dentro do maior respeito, uma escaneada tecnicamente
irreparável. Como diria o bardo lusitano, apenas uma rápida bulida no meu “eu
profundo e outros eus”.
Próstata em ordem, tamanho clássico de uma noz, segundo a
autoridade médica, voltei para casa engajado na brigada preventiva contra esse
tipo de câncer, uma das maiores causas de mortes de cavalheiros por estas
plagas.
Seja homem, cabra, treine em casa, com a namorada. No mais, é
seguir o conselho do filósofo Emerson, que em velho anúncio do uísque Johnnie
Walker recomendava: “Faça tudo aquilo que você mais teme”.
Sinceramente, o que custa um dedinho de prosa com o seu
urologista. Cuide-se, homem!
Xico Sá (julho/2012)
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