Quando criança, era comum ouvir chamarem as empregadas domesticas de
peniqueiras. Talvez porque limpavam penicos, o que já dá uma ideia da
época, onde banheiros eram escassos e o uso daquele utensilio muito
comum. Naquele tempo as domesticas incorporavam-se às famílias, variando
entre um membro da casa a um móvel. Isso foi se modificando quando a
Justiça do Trabalho começou a avançar e os direitos das domesticas
passaram a ser reconhecidos.
O tratamento também. A antiga peniqueira virou doméstica, evoluindo
para secretária do lar e até assessora, segundo os politicamente
corretos. Mas uma coisa é falar desses direitos das domésticas, outra
muito diferente é o reconhecimento dos tais direitos pelos patrões. Ah,
laborais leitores, o que os patrões tem chiado... .
Mãe Leca é um exemplo. Me perguntou como se explica o fato da
franquia do seu plano de telefonia acabar sempre no meio do mês, mesmo
ela usando-o com moderação, enquanto sua elogiada e invejada secretária
passa os dias inteiros a bordo do celular com fones de ouvido, fazendo
suas atividades, e o danado do plano nunca acaba. E eu pergunto, o que
isso tem a ver com os direitos das domésticas?
Dona Ana, pessoa de mente arejada, disse que não pode desgostar a sua
assessora porque é de confiança e eficiente, mas dada a opinar nos
programas de televisão que assistem. Muito embora Aninha pretenda
assistir filmes de Fellini e series da Netflix, é obrigada a ver todos
os dias os sangrentos jornais locais e embalar seus fins de semana com
Silvio Santos.
É interessante acompanhar o paladar das domesticas, que cozinham o
que elas gostam e no tempero que preferem. Dona Conceição tinha no
freezer uma peça caríssima do raro bife de Kobe, que seu marido Luiz
trouxera do Japão, pelo qual pagara 1.500 dólares o quilo. No dia
seguinte o almoço feito pela domestica foi o mais caro picadinho que já
se serviu aqui na Paraíba.
Se bem que muitos dos conflitos se devem à forma como os patrões
tratam e principalmente contratam suas assessoras domésticas. Me digam
mesmo, justos leitores, se vocês contratariam Maria Dutra como babá. Ao
ver seu tamanho pequeno, quase anã, Vanessa disse que não a contrataria.
E ela, colocando os braços em posição de açucareiro: “- Ôxe, ser
baixinha é até uma vantagem, porque nos meus outros empregos quando eu
deixava um bebê cair ele se machucava pouco!”.
Marcos Pires
Do Blog do Tião
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