sábado, 11 de abril de 2015

Dinheiro compra felicidade?

Deu na Folha que dívidas estão levando pessoas a procurar médicos com quadros de ansiedade e depressão. Falta de dinheiro traz infelicidade, mas e o inverso? Será que dinheiro traz felicidade? A resposta curta é: "Sim, mas só até US$ 75 mil anuais".

Pesquisas feitas ao longo da última década (a maioria dos estudos é dos EUA, daí a utilização de dólares) sugerem que felicidade e grana caminham juntas, mas só até certo ponto.

É claro que, se você vê seu filho passar privações e ainda por cima é perseguido por cobradores, tem todas as razões para sentir-se mal. É evidente também que, se a sua renda aumentar, você provavelmente vai se declarar mais satisfeito. Esse movimento, porém, não é linear. A partir de um certo ponto, que flutua entre os US$ 75 mil e os US$ 100 mil, dependendo da pesquisa, o dinheiro a mais já não se traduz tão cristalinamente em mais felicidade.


Para sermos um pouco mais técnicos, há duas medidas básicas de felicidade, a afetiva, que tenta captar as instâncias em que o sujeito experimenta emoções positivas, e a valorativa, que tem mais a ver com metas de vida e a narrativa que criamos para nossas biografias. Enquanto a primeira tende a empacar lá pelos US$ 75 mil, a segunda não encontra limite (lembre-se que Eike Batista almejava ser o homem mais rico do planeta).

Isso também faz sentido. Quantos jantares gourmet você devora numa noite? De um modo mais geral, o ser humano se adapta a quase tudo, especialmente ao que é bom. E, quanto mais avançamos nessa escala, mais difícil fica comprar prazer adicional.

O conselho dos especialistas é, além de evitar a armadilha das dívidas, gastar em coisas que proporcionem experiências de vida. A felicidade que elas geram tem prazo de validade maior. Escalar o Everest, por exemplo, traz uma sensação positiva que, em vez de apenas diminuir com o tempo, é de algum modo incorporada à sua narrativa autobiográfica.

HÉLIO SCHWARTSMAN
Folha de São Paulo

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