quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O valente Manoel Sitônio

Manoel Sitônio, farofeiro e contador de vantagens, se proclamava o homem mais valente de Custódia. Não temia nada, já matara, pelo menos nos seus cálculos, mais de 40 almas, era do tipo que, além de não levar desaforo para casa, provocava as brigas quando ninguém o chamava ao ringue.
Casado em segundas núpcias com a bondosa Maria Licor-a primeira lhe enfeitara a testa com reluzente chifre ao fugir com o trapezista do circo -,Manoel Sitonio não trabalhava e vivia as custas das costuras que a mulher fazia para sua imensa freguesia.
Ela era uma artista na arte de costurar.Fazia roupas de homens,de mulheres e de crianças, embora depois de casada tenha dispensado a costura de roupas masculinas por imposição do marido . “Mulher minha só costura pra mim”, gabava-se Manoel Sitônio, enfarofado e metido a besta, nos intervalos de um gole de cachaça com tira gosto de sardinha.
Até que aconteceu.
Um senhor meio desconfiado, com um chapéu de abas derrubadas sobre os olhos, entrou na bodega de João de Teté, onde Manoel Sitônio batia ponto e enchia o rabo de cana, pediu algumas provisões de boca, pagou a conta e já se dirigia à saída quando lhe puxaram pela camisa.Era Manoel Sitonio, com suas farofas e basófias.
-Ninguém entra e sai daqui sem tomar uma-, intimou ele. O homem parou, obedeceu, Manoel mandou encher um copo até as beiradas, mexeu o líquido com o dedo e ordenou
-Beba!
O homem bebeu, quis sair, mas Manoel não deixou:
-Tome outra!
E lá se foi o segundo copo, mexido do mesmo jeito.
Imediatamente Manoel ordenou a João de Teté que enchesse o copo de novo. Agora, porém, não botou o dedo. Puxou o revólver canela fina, mexeu a cachaça com o cano, mandou o visitante beber e quando o coitado engoliu o precioso líquido, Manoel indagou:
-Diga seu nome.
E o homem:
-Eu me chamo Lampião, e o senhor?
Aí Manoel, perdendo a pose, respondeu quase chorando:
-Eu sou finado Manoel Sitônio.

*Do Blog do Tião Lucena 

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