quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O menino da Vila do Arco

Estava viajando quando recebi a notícia de que o amigo Gilberto Lucena havia sido internado na UTI do hospital de Pombal com problema de saúde. Apesar do choque, nutri dentro de mim a esperança que o “menino da vila do arco” saísse dessa sem maiores problemas.

Na manhã de hoje soube de seu falecimento. O velho amigo partira antes do combinado deixando em todos os seus amigos uma enorme lacuna e um remanso de saudades.

Betinho é uma dessas pessoas que não morrem, se encantam. Um homem culto por natureza. Tive com ele momentos memoráveis de admiração, brincadeira e respeito. A sua inteligência o fazia um homem do povo. Era comum encontrá-lo no centro da cidade em longas conversas com populares de todas as classes sociais e de todos os credos.

No auge de nossa juventude, participamos com ele e outros amigos de intermináveis saraus poéticos e até musicais nas madrugadas da velha praça centenária de Pombal-PB. Ao seu lado, realizamos inúmeros eventos culturais durante a XX Semana Universitária de Pombal e a ele sempre recorríamos quando o assunto era literatura, cinema, música e tudo mais que envolvesse o mundo artístico e cultural.

O titulo de Doutor pela Universidade Federal da Paraíba não foi suficiente para fazer-lhe alterar o sua rota de simplicidade. De short, camiseta e chinelo de dedos ele estava sempre ali ao nosso alcance. Mas, agora ele resolveu partir.

Acredito que a nossa existência apenas coincide com a vida até quando a matéria pára de funcionar. A vida, entretanto, pode continuar depois da existência. Ela se mantém na forma das memórias represadas no coração e nas mentes daqueles que ficam.

A morte verdadeira, definitiva, inevitável, somente vem muito depois do fim da existência. Ela somente aparece quando a última pessoa que se lembra, esquece-se daquele que se foi. Nesse ponto, finalmente a morte encontra o fim da vida. De certo, estamos condenados a viver somente uma vida, mas certamente continuaremos em pé, pulsante, presente e eternizado na existência que construímos na lembrança de cada um de nós.

Caro amigo, avante! Vamos enfrentar o vento desse moinho do tempo alimentando a sua história.


Teófilo Júnior 

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